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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Matera, A Cidade das Pedras!

1. - Introdução 


Vamos conhecer Matera, uma das cidades mais antigas e enigmaticamente belas do mundo, onde cada pedra conta uma história e cada esquina revela séculos de civilização. Localizada no sul da Itália, esta joia escondida nos convida a mergulhar em uma narrativa que remonta a milênios. Os famosos Sassi de Matera, com suas habitações esculpidas diretamente nas falésias de calcário, formam um cenário de tirar o fôlego, reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO. 


Vista geral de Matera ao nascer do Sol, foto de  Minnystock em Dreamstime.com

 

2. - Fundação e Primeiros Habitantes

Matera é uma das cidades habitadas mais antigas do mundo, com origens que remontam a cerca de 9.000 anos. Inicialmente, a área foi habitada por comunidades pré-históricas que se estabeleceram nas cavernas naturais da região.

3. - Povos e Dominações

Ao longo dos séculos, Matera foi dominada por várias civilizações. Os Romanos anexaram a região em 251 a.C. Após a queda do Império Romano, Matera passou sob o controle de diversos povos, incluindo os Lombardos, os Bizantinos, os Normandos e os Sarracenos. Cada domínio deixou sua marca cultural e arquitetônica na cidade.

Os Lombardos particularmente tiveram muita influência, eles contribuíram para a construção de fortificações e igrejas, muitas das quais ainda são visíveis na arquitetura românica da cidade. Eles ajudaram a moldar o desenvolvimento inicial das habitações nas rochas.

Guerreiro lombardo

4. - Eventos Históricos Importantes

Um dos eventos mais significativos foi a transformação de Matera em um centro religioso e monástico durante o período bizantino, que resultou na construção de muitas das igrejas rupestres. Mais recentemente, no século XX, Matera ganhou notoriedade como o "lixo da Itália" devido às suas terríveis condições de vida, levando ao desalojamento de seus habitantes nos anos 1950.

5. - Personagens Históricos

  • Carlo Levi: Um escritor e pintor italiano que trouxe atenção nacional para a pobreza de Matera em seu livro "Cristo si è fermato a Eboli".
  • Giovanni Pascoli: Um poeta que frequentemente escrevia sobre sua terra natal, incluindo Matera.
Giovanni Pascoli, escritor italiano


6. - Igrejas e Arquitetura Religiosa

Matera é famosa por suas igrejas rupestres, como a Igreja de San Pietro Caveoso e a Igreja de Santa Maria de Idris, que foram esculpidas diretamente nas rochas. A Catedral de Matera, construída no século XIII, destaca-se por seu tamanho e imponência, refletindo a importância religiosa da cidade naquela época.

lateral pátio Igreja San Pietro Caveoso, acima na rocha Igreja de Santa Maria de Idris, foto HistoriacomGosto


7. - Abandono e Transformação

Nos anos 1950, as condições de vida nos "Sassi" (as cavernas habitáveis) de Matera eram tão precárias que o governo italiano interveio e desalojou seus habitantes, movendo-os para acomodações modernas. Isso levou à imagem de Matera como um "lixo" cultural e social. No entanto, a cidade começou a se reerguer nas décadas seguintes, com projetos de restauração que respeitaram sua arquitetura única. Em 1993, os Sassi de Matera foram declarados Patrimônio Mundial da UNESCO, marcando o início de sua transformação em um destino turístico de renome internacional.

8. - Renascimento Turístico

Atualmente, Matera atrai visitantes do mundo inteiro, seduzidos por sua beleza única e sua história profunda. Em 2019, foi celebrada como a Capital Europeia da Cultura, consolidando sua posição como um ícone cultural e histórico.

visão geral da cidade antiga, foto HistoriacomGosto


9. - Principais locais de interesse para visitação

Matera, com sua história rica e arquitetura única, oferece uma variedade de locais fascinantes para visitar. Aqui estão dez dos principais:

a) Sassi di Matera:
  • Os Sassi são casas escavadas na própria rocha calcárea, característica de Basilicata e Apulia, chamada localmente "tufo", embora não seja um “tuff” cvulcânico. As ruas em algumas partes do Sassi costumam passar por cima de outras casas mais antigas. A antiga cidade cresceu em uma encosta da ravina criada pelo rio Gravina. A ravina é conhecida localmente como "la Gravina".

    O termo sasso deriva do Latim saxum, significando uma colina, rocha ou grande pedra.


  1. Habitações nas rochas, Matera, foto HistoriacomGosto

  • A área é Patrimônio Mundial da UNESCO, oferece um vislumbre da vida em tempos passados e é exemplo de ocupação humana contínua.

b) Catedral de Matera (Duomo di Matera):
  • Erguida no século XIII em estilo românico-apuliano.
  • A sua arquitetura é impressionante com afrescos e vistas panorâmicas dos Sassi.
Fachada da Catedral de Matera, foto de © Stoyan Haytov em dreamstime.com

A catedral de Matera , que tem o nome oficial de catedral de Madonna della Bruna e Sant'Eustachio , é o principal local de culto católico de Matera , igreja matriz da arquidiocese de Matera-Irsina . A catedral foi construída em estilo românico da Apúlia no século XIII, no contraforte mais alto da Civita, que divide os dois Sassi .

Na área do antigo mosteiro beneditino de Sant'Eustachio , protetor da cidade, onde o Papa Urbano II já havia permanecido entre 1093 e 1094 , a catedral foi construída a partir de 1230, poucos anos depois de o Papa Inocêncio III ter elevado a cidade de Matera na categoria de arquidiocese em união com Acerenza ; foi erguido a mando do imperador Frederico II da Suábia , imperador do Sacro Império Romano e conde de Matera . Para garantir que o novo templo dominasse os edifícios circundantes e os dois vales subjacentes do Sassi com a sua massa, foi necessário elevar a base rochosa em mais de seis metros.

Interior do Duomo de Matera, foto HistoriacomGosto


O interior tem planta em cruz latina e três naves , destacando-se a central sobre as demais, que se dividem entre si por arcos de volta perfeita sustentados por dez colunas encimadas por capitéis de pedra; sofreu notáveis ​​transformações a partir de 1627 com a adição de estuques e decorações, e em 1776 os revestimentos das molduras e estuques foram cobertos com um véu de ouro. A nave central é iluminada por 10 janelas (cinco de cada lado).

Afresco bizantino, foto HistoriacomGosto

Destaca-se um afresco bizantino datado de 1270 da Madonna della Bruna com o Menino Bênção com dois dedos , atribuído a Rinaldo da Taranto e localizado no altar do primeiro vão da nave esquerda conhecido como "della Bruna".

Obs: Em 1991 a catedral recebeu a visita do Papa João Paulo II.


c) Igreja de Santa Maria de Idris:

  • Esculpida na rocha no século XII. 
  • Construída na rocha, oferece vistas panorâmicas do Sasso Caveoso.
Igreja Santa Maria de Idris, foto de © Cezary Wojtkowski em dreamstime.com


Situa-se na parte alta de Monterrone, uma grande falésia calcária que se ergue no meio do Sasso Caveoso; você pode alcançá-lo através de um lance de escadas perto da igreja rochosa de Santa Lucia alle Malve . O nome Idris deriva do grego Odigitria , aquela que mostra o caminho, ou da água que fluía daquela rocha.

A igreja rupestre tem frontaria em alvenaria com pequena torre sineira lateral; o interior, devido às contínuas alterações sofridas ao longo dos séculos, nada tem da estrutura original. É constituída por uma nave irregular com frescos, colocados na parede posterior da cripta, a maior parte dos quais foram destacados para restauro. No altar há uma Madona com o Menino do século XVII pintada em têmpera, à direita Sant'Eustachio, padroeiro da cidade e outros afrescos também do século XVII e também uma crucificação toscamente feita com a silhueta da cidade de Matera ao fundo. 

A igreja de Santa Maria de Idris está ligada à cripta rochosa de San Giovanni in Monterrone através de um túnel, e nesta cripta existem numerosos frescos valiosos que podem ser datados de um período que vai do século XII ao século XVII .

interior igreja Madonna de Idris, foto Beniculturale.it



Museo Nazionale d'Arte Medievale e Moderna della Basilicata:

  • Localizado no Palácio Lanfranchi, do século XVII
  • Abriga uma vasta coleção de arte medieval e moderna, incluindo obras de Carlo Levi.

Museu de arte medieval, Palazzo Lanfranchi, foto HistoriacomGosto


d) Casa Grotta di Vico Solitario:

  • Uma réplica fiel de uma antiga casa-caverna.
  • Oferece uma visão autêntica das condições de vida nos Sassi antes do reassentamento. 

Casa Gruta, foto Museu Casa Gruta

interior da casa gruta, foto historiacomgosto


e) Chiesa di San Pietro Caveoso:
  • Construída no século XIII.
  • Localizada dramaticamente em um penhasco, com vistas deslumbrantes e rica história religiosa.

Igreja de San Pietro Caveoso, foto HistoriacomGosto


A construção da igreja atual remonta a 1218. A igreja original foi escavada na crista rochosa que do topo, onde se ergue a Madonna dell'Idris, descia até à praça cujas dimensões eram muito menores do que hoje. Restam apenas alguns vestígios da igreja rupestre na nave lateral direita, onde atualmente existe um nicho com a estátua de San Giovanni da Matera. O edifício sofreu modificações e remodelações ao longo dos séculos, com a perda de muitas das características originais da construção. 

No século XVII a igreja foi totalmente renovada com o acréscimo da fachada atual e a construção da torre sineira, enquanto o interior foi ampliado com a adição de capelas laterais e a substituição do teto original de treliças de madeira por telhado de tufo.

Em 1706 a igreja foi reconsagrada, conforme indicado numa placa, e posteriormente modificada: o pináculo foi acrescentado à torre sineira, o interior foi revestido com estuques e decorações e foi colocado um tecto falso de madeira sob a cobertura de tufo.

Interior da Igreja de São Pedro e São Paulo ou
San Pietro Caveoso, foto HistoriacomGosto



f) Parco della Murgia Materana:

  • Em uma área natural de importância arqueológica e ambiental.
  • Oferece trilhas com vistas panorâmicas e acesso a várias igrejas rupestres antigas.


Área mais natural em torno da cidade antiga, foto HistoriacomGosto

g) Cripta del Peccato Originale:

  • Construção: Abrigo de cavernas com afrescos dos séculos VIII e IX.
  • Motivo para visitar: Conhecida como a "Capela Sistina" da arte rupestre devido aos seus afrescos bem preservados.
interior da cripta del peccato originale

h) Castello Tramontano:

  • Iniciado no século XVI, mas nunca concluído.
  • Um exemplo intrigante de arquitetura militar e um local ideal para vistas panorâmicas da cidade.
               Castelo tramontano, Matera, @Mitzobs em dreamstime.com/

O Castelo Tramontano é um testemunho da história turbulenta e das ambições rivais que marcaram Matera durante o início do século XVI. Aqui está uma descrição detalhada do Castelo Tramontano:

A construção do Castelo Tramontano começou em 1501, sob as ordens de Giovan Carlo Tramontano, Conde de Matera. No entanto, a obra nunca foi concluída devido à morte do conde em 1515, que foi assassinado por cidadãos revoltados devido aos impostos opressivos.

O castelo foi projetado seguindo as linhas do estilo aragonês, que era comum na época, com claras influências renascentistas. Possui uma forma triangular com três torres semicirculares, das quais duas ficam na parte frontal e uma na parte traseira. As torres foram projetadas para fins defensivos, com espessas muralhas destinadas a repelir invasores.

Construído em pedra calcária local, o castelo reflete o estilo robusto e funcional das fortificações daquela era. As paredes maciças e as torres são um testemunho da função militar que o castelo deveria desempenhar.

Originalmente, o castelo foi concebido como uma residência fortificada para o Conde Tramontano, bem como uma estrutura defensiva para proteger Matera de invasões.


i) Piazza Vittorio Veneto:

  • Centro urbano principal de Matera.
  • Um ponto vibrante da cidade moderna, perfeito para passeios, com acesso a atrações subterrâneas como cisternas antigas.

Piazza Vittorio Veneto, foto de https://materasassiemurgia.com/
em https://materasassiemurgia.com/en/grand-tour-piano-civita-and-sassi-districts/

Situada no coração da cidade moderna de Matera, a Piazza Vittorio Veneto tem suas origens nas reformas urbanas dos séculos XVIII e XIX. Foi desenvolvida como parte do plano de modernização da cidade, servindo como um espaço público central.

Nesta praça há muitos monumentos interessantes: o Palazzo dell'Annunziata, a Fonte Ferdinandea, a Igreja de San Domenico, a Igreja da Mater Domini. Tem também a igreja caverna do Santo Spirito, localizada logo abaixo do nível da praça. 

Uma das atrações mais fascinantes da praça é o Palombaro Lungo, um grande reservatório subterrâneo de água esculpido na rocha, que data do século XIX. É um exemplo incrível da engenhosidade hidráulica e pode ser visitado através de visitas guiadas que exploram o complexo sistema de cisternas subterrâneas.

j) Chiesa di Santa Chiara (Igreja de Santa Clara) 

  • Construída no século XVII
  • Famosa por sua arquitetura barroca e relevância cultural como parte do patrimônio religioso de Matera.


foto HistoriacomGosto

A igreja do Convento de Santa Chiara foi construída entre 1700 e 1707 por Monsenhor De Los Ryos e cedida aos Irmãos das Almas do Purgatório que partilharam o seu uso com as Clarissas até construírem uma segunda sacristia. Quando a ordem foi enclausurada em 1714, os irmãos mudaram-se para a igreja de Sant'Eligio. No portal de madeira da igreja, finamente esculpido, pode-se ver o brasão do Arcebispo espanhol, e em ambos os lados as estátuas de Sant'Anna e San Gioacchino. 


foto HistoriacomGosto

O interior, de nave única, apresenta obras setecentistas atribuíveis à escola de Sebastiano Conca e belos altares de madeira em estilo barroco, talhados e dourados e encomendados pelos irmãos. 

No altar-mor está a pintura de Nossa Senhora do Rosário entre os Santos Francisco de Assis e Clara e nas laterais as mesas de Santa Inês de Assis, irmã de Santa Clara, e de Santa Rosa de Viterbo. 

Na parede direita do coro pode-se admirar a tela da Virgem com as almas do Purgatório, datada de 1602, com o retrato e brasão do cliente, enquanto na parede direita está a pintura da Imaculada Conceição.

foto HistoriacomGosto


k) Convento de Santo Agostinho


Este convento agostiniano foi fundado em 1591. A igreja, destruída por um violento terremoto, foi reconstruída em estilo barroco tardio e renomeada como Madonna delle Grazie em 1750, embora continuasse a ser chamada de Sant'Agostino. 

Em sua fachada, pode-se admirar: as estátuas dos Santos Pedro e Paulo, localizadas na extrema esquerda e direita; uma grande janela com a estátua de um bispo acima dela; e o que é mais provável Santo Ambrósio, que batizou Santo Agostinho, e finalmente, sua elegante entrada principal, com uma estátua de S. Agostinho em um nicho. 


Convento de Santo Agostinho, foto © Antanovich1985 em Dreamstime.com

Seu interior tem uma nave única com altares de mármore esculpidos em estilo rococó feitos por mestres napolitanos nos anos de 1748 e 1749, bem como altares feitos de pedra local e pintados em estilo falso mármore, adornados com pinturas da escola napolitana. No segundo altar há um afresco da Virgem dos Milagres de 1595, que foi removido da parede da igreja de pedra dedicada a São Julião e trazido para dentro da “nova” igreja.

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l) Comentário final

Esses locais não apenas representam a diversificada herança cultural e histórica de Matera, mas também oferecem aos visitantes uma experiência profunda e imersiva em uma das cidades mais extraordinárias e exóticas do mundo.

Um dos pontos que nos chamou  a atenção foi a imponência da Catedral de Matera e a quantidade de Igrejas. Fazendo uma pesquisa sobre esse assunto ressaltamos que:

  • Centro Religioso e Administrativo: Durante a Idade Média, Matera foi um importante centro religioso e administrativo. Isso justificava a construção de uma catedral grandiosa que servisse não apenas como um local de culto, mas também como símbolo de poder e influência.
  • Arcebispado de Matera: A cidade foi sede de um arcebispado, o que demandava uma catedral capaz de atender a funções litúrgicas e administrativas de alto nível.
  • Ponto de Confluência: Situada em uma região marcada por rotas de comércio e migração, Matera tornou-se um local de confluência cultural e social. Isso facilitou a disseminação de influências religiosas e a construção de instituições eclesiásticas.
  • Monasticismo Primitivo: Desde os primeiros tempos do cristianismo, Matera e seus arredores foram locais de retiro monástico. As cavernas e a paisagem acidentada proporcionaram locais ideais para a meditação e para o estabelecimento de mosteiros e eremitérios.
  • Eventos Religiosos: Matera desenvolveu tradições religiosas locais e festivais que atraíam peregrinos e devotos, reforçando sua identidade como um centro de fé.

Tchau Matera!, cidade simpática, foto HistoriacomGosto


10. Referências


- Wikipedia - Matera, Chiesa di Santa Chiara, Santa Maria de Idris, San Pedro Caveoso, algumas fotos com direito a reprodução 

- ChatGpt - Pesquisas diversas

- HistoriacomGosto - Fotos e anotações

- Dreamstime - algumas fotos com direitos de reprodução.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

A história dos Jesuítas no Mundo

 1. - Introdução


A Ordem dos Jesuítas, oficialmente conhecida como Companhia de Jesus, foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola, um ex-soldado espanhol que se tornou sacerdote. O contexto da época era marcado pela Reforma Protestante, que desafiava a hegemonia da Igreja Católica na Europa. 

Aprovação do Papa à ordem dos Jesuitas



A fundação da ordem foi motivada pelo desejo de Inácio de Loyola de fortalecer a fé católica e combater a disseminação do protestantismo, através de uma renovação espiritual e educacional dentro da Igreja. A Companhia de Jesus foi aprovada pelo Papa Paulo III em 1540.

2 - A Conversão de Inácio de Loyola



A conversão espiritual de Santo Inácio de Loyola é uma história profunda e inspiradora de transformação pessoal e dedicação religiosa. Inácio, nascido em 1491 no País Basco, Espanha, passou de um cavaleiro vaidoso e mundano a um dos maiores líderes espirituais da Igreja Católica.

Primeiros anos 

Inácio, inicialmente chamado Iñigo López de Loyola, nasceu em uma família nobre e foi educado para seguir uma carreira militar. Sua vida era marcada por aspirações de glória e honra típicas de um cavaleiro do século XVI. Ele se alistou no exército de Navarra, lutando ao lado das forças espanholas contra os franceses. Era conhecido por seu espírito destemido e desejo de reconhecimento.

Ferimento (1512) e Reflexão

Durante a defesa do castelo de Pamplona, Inácio foi gravemente ferido por um tiro de canhão que quebrou uma perna e feriu a outra. Este foi o ponto de virada em sua vida, forçando-o a um longo período de recuperação.

Recuperação Inácio Loyola

Durante sua convalescença, na casa da família em Loyola, ele requisitou livros de cavalaria para se entreter, mas havia apenas textos religiosos disponíveis, como a "Vida de Cristo" e "Vidas dos Santos".

A leitura dessas obras gerou em Inácio uma introspecção profunda. Ele começou a sentir uma insatisfação com sua vida anterior e ficou impressionado com as realizações dos santos, desejando superar suas façanhas espirituais.

Transformação Espiritual

Inácio começou a discernir entre as consolações e desolações espirituais, um conceito que se tornaria central em seus "Exercícios Espirituais". Ele percebeu que os pensamentos de servir a Deus lhe traziam paz duradoura, ao contrário dos pensamentos de glória mundana.

Decidiu abandonar a busca por glórias terrenas e se dedicar à vida espiritual, comprometendo-se a seguir o exemplo de Cristo e dos santos.


Em 1522, Inácio deixou Loyola e fez uma peregrinação ao Mosteiro de Montserrat, onde deixou suas armas militares em um gesto simbólico de renúncia à vida anterior. Depois, passou um tempo em Manresa, onde viveu em austeridade extrema e passou por experiências místicas intensas, aprofundando seu entendimento espiritual e compondo os rascunhos iniciais dos "Exercícios Espirituais".

Peregrinação à Jerusalem

Motivado por um desejo profundo de seguir os passos de Cristo de maneira literal, Inácio decidiu realizar uma peregrinação à Terra Santa. Ele saiu de Barcelona no início de 1523. Viajou primeiro para a Itália, onde embarcou num navio rumo ao Oriente Médio. A viagem de barco foi longa e perigosa, mas Inácio finalmente chegou à Terra Santa, desembarcando em Jafa e seguindo para Jerusalém.

A intenção de Inácio era permanecer em Jerusalém para converter infiéis e viver onde Cristo viveu. Ele desejava experimentar de forma tangível e espiritual os lugares sagrados associados à vida de Jesus. Devido a instabilidade política da região e aos perigos locais, Inácio foi aconselhado pelos Franciscanos de lá a retornar para a Europa, e portanto ficou apenas três semanas no local. 

Prisões em Alcalá (1526) e Salamanca (1527)

Após seu retorno da Terra Santa, Inácio começou a estudar e, simultaneamente, a pregar e conduzir exercícios espirituais. As autoridades suspeitaram de heresia, pois ele não tinha formação teológica formal, e o fato de ensinar sem ser sacerdote levantou suspeitas de que ele poderia estar disseminando ideias heréticas.

Em Alcalá, Inácio ficou preso por cerca de 42 dias. Após ser interrogado, foi libertado com a condição de não mais ensinar até completar seus estudos teológicos. Em Salamanca ele Ficou preso por cerca de 22 dias. Neste caso, também foi absolvido, mas as autoridades exigiram que ele parasse de pregar até obter a educação teológica formal.


3. Fundação da Companhia de Jesus


Inácio percebeu a necessidade de educação formal para servir melhor a Deus e iniciou seus estudos em Barcelona (gramática com aulas particulares). Em Alcalá e Salamanca ele começou os estudos de teologia mas teve alguns problemas, já relatados, com as autoridades eclesiásticas devido as suas pregações. Finalmente reconheceu que precisava uma formação mais completa em teologia e seria adequado ter um período sem suspeitas de heresia. Por isso decidiu ir para Paris, que era considerado o centro acadêmico da Europa na época, onde se formou em teologia.

Em Paris, reuniu um grupo de seguidores, incluindo Francisco Xavier e Pedro Fabro, com quem fundou a Companhia de Jesus (Jesuítas) em 1534 com o objetivo de defender e propagar a fé católica.

A Companhia de Jesus foi aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III em 1540, e Inácio tornou-se seu primeiro Superior Geral.

Papa Paulo III, aprovando a Companhia de Jesus

Nos primeiros anos, a ordem se destacou pela sua disciplina militar e dedicação à educação e evangelização. Os jesuítas rapidamente se tornaram conhecidos por sua formação rigorosa e por estabelecerem escolas e universidades por toda a Europa, com o objetivo de educar tanto clérigos quanto leigos.

Obs: Na realidade o grupo de fundadores da Companhia de Jesus era constituído de sete pessoas, a saber: Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Pedro Fabro, Diego Laínez, Alfonso Salmerón, Nicolau de Bobadilla, Simão Rodrigues.


4.0 - Carisma Inicial e Aperfeiçoamento


O carisma do ensino e da evangelização é um elemento central da Companhia de Jesus desde a sua fundação, mas foi se desenvolvendo e ampliando ao longo do tempo.

Desde o início, Inácio de Loyola e seus companheiros fundadores tinham um forte compromisso com a evangelização. O objetivo inicial da ordem era defender e propagar a fé católica em resposta aos desafios da Reforma Protestante. A educação rapidamente se tornou um meio crucial para alcançar esse objetivo, pois os jesuítas reconheceram que a formação intelectual era essencial para a evangelização eficaz e para a reforma interna da Igreja.


Jesuitas no Brasil interagindo com os indígenas

Desenvolvimento do Ensino

Logo após a fundação, a Companhia de Jesus começou a se concentrar na educação formal. A primeira escola jesuíta foi estabelecida em Messina, na Sicília, em 1548. A partir daí, a rede de instituições educacionais cresceu rapidamente, com escolas e universidades surgindo em toda a Europa e, eventualmente, em outras partes do mundo. Os jesuítas se tornaram conhecidos por seu rigor acadêmico e por oferecerem uma educação abrangente que incluía não apenas disciplinas religiosas, mas também ciências, artes e humanidades.

Escola Jesuíta no Brasil

Expansão Missionária

O carisma missionário dos jesuítas também se expandiu ao longo do tempo. Missionários jesuítas foram enviados para diversas partes do mundo, incluindo a Ásia, África e Américas. Eles se destacaram por suas abordagens inovadoras de evangelização, muitas vezes aprendendo as línguas locais e respeitando as culturas indígenas, ao mesmo tempo que promoviam a fé católica.


Jesuíta Johann Adam Schall von Bell

Retrato  do  jesuíta alemão  Johann Adam Schall von Bell  (1592–1666),
missionário na China (dinastias Ming e Qing) de  1622 até sua morte em 1666.

Consolidação do Carisma


O carisma da evangelização e educação missionária dos jesuítas levou à criação de inúmeras missões em todo o mundo. Eles desempenharam um papel crucial na Contra-Reforma, ajudando a revitalizar a Igreja Católica em várias regiões. As  missões na Ásia, África e nas Américas,  foram fundamentais na educação e conversão de povos indígenas.

Igreja Jesuíta em Lucerna, Suíça

Obs: Na Suíça os jesuítas ajudaram a diminuir a influencia luterana. Um exemplo é Lucerna que permaneceu católica e tem uma linda Igreja em funcionamento. Na época da contrareforma, ao lado da Igreja funcionava o colégio Jesuíta, destacando o papel educacional da ordem.

Com o tempo, o carisma da educação e da evangelização se consolidou como uma marca distintiva dos jesuítas. A ordem continuou a adaptar suas abordagens educacionais e missionárias às necessidades dos tempos e dos lugares onde operava, mantendo sempre o compromisso com a formação integral e a justiça social.

Portanto, embora o ensino e a evangelização tenham sido parte do carisma jesuíta desde o início, eles foram desenvolvidos e enriquecidos ao longo dos séculos, tornando-se pilares fundamentais da identidade e missão da Companhia de Jesus.


Inácio e as Missões

Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, não participou diretamente de missões fora da Europa. Após sua conversão espiritual, ele se concentrou principalmente na fundação e organização da ordem em Roma, onde dedicou seus esforços à formação dos primeiros jesuítas e ao estabelecimento das bases administrativas e espirituais da Companhia de Jesus.


5. - Expansão Pós-Fundador


Após a morte de Inácio de Loyola em 1556, a ordem continuou a expandir-se sob a liderança de sucessores como Francisco Xavier e Pedro Canísio. Os jesuítas se tornaram influentes em cortes europeias e ganharam a confiança de muitos monarcas, o que facilitou a expansão de suas atividades educacionais e missionárias.

São Francisco Xavier, o evangelizador das Indias

São Francisco Xavier: Viveu apenas quarenta e seis anos, dos quais onze em missão. Por este motivo, São Francisco Xavier pode ser considerado um verdadeiro "gigante da evangelização". 

Em sua existência breve, mas admirável pela sua fecundidade missionária, este religioso espanhol conseguiu levar o Evangelho ao Extremo Oriente, adaptando-o, com sabedoria, ao caráter e à linguagem de populações muito diferentes entre si.  

Ao consagrar-se a Deus e ao apostolado, Francisco partiu, no dia 7 de abril de 1541, para as Índias, a pedido do Papa Paulo III, que queria a evangelização daquelas terras, na época, conquistadas pelos portugueses.

Chegando lá, desde então, o seu ministério foi dedicar-se precisamente à assistência dos últimos e excluídos da sociedade: os doentes, os prisioneiros, os escravos, os menores abandonados.

Para as crianças, de modo particular, Francisco inventou um novo método de ensino do Catecismo: pegava-as nas ruas tocando um sininho; depois, ao reuni-las na igreja, traduziu os princípios da Doutrina católica em versos e os cantava com as crianças, facilitando-lhes a aprendizagem.

6. - Construção da Igreja de Jesus (Chiesa del Gesú)


A Igreja de Jesus, amplamente conhecida apenas como Gesù, é a igreja mãe da Companhia de Jesus. Sua fachada é "a primeira fachada verdadeiramente barroca" e introduziu o estilo barroco na arquitetura. A igreja serviu de modelo para inúmeras igrejas jesuítas no mundo inteiro, especialmente nas Américas. É uma das igrejas regionais do Lácio em Roma.

Igreja de Jesus, Roma, foto wikipedia

Concebida inicialmente em 1551 por Santo Inácio de Loyola, fundador da ordem, ativo durante a Reforma Protestante e a na subsequente Contrarreforma, Gesù foi, e ainda continua sendo, a sede do superior-geral da Companhia de Jesus.  


Apoteose de Santo Inácio, capela Sto Inácio,
Giovanne Batista Gauli, 1639-1708


7. - Expulsão e Supressão


Marquês de Pombal
No século XVIII, a ordem enfrentou resistência devido à sua influência política e econômica. Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil e de outras colônias portuguesas por ordem do Marquês de Pombal, que via a ordem como uma ameaça ao poder real. A pressão sobre a Companhia de Jesus aumentou e, em 1773, o Papa Clemente XIV suprimiu a ordem em todo o mundo, devido a pressões políticas de várias monarquias europeias.



8. - Sobrevivência e Restauração

Apesar da supressão, a ordem sobreviveu em algumas regiões, como a Rússia, onde a supressão papal não foi reconhecida. Em 1814, a ordem foi oficialmente restaurada pelo Papa Pio VII, que reconheceu a necessidade de sua contribuição educacional e espiritual.


9. - Próximas publicações 

A seguir vamos publicar uma postagem específica sobre os Jesuítas no Brasil


10. - Referências

Wikipedia - Jesuitas, Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier

Site oficial: Jesuitas worldwide - www.jesuits.org

Site oficial: https://jesuitasbrasil.org.br/

ChatGpt - Pesquisas sobre Inácio de Loyola e Jesuítas

Livro: Exercícios Espirituais - Santo Inácio de Loyola