I. Introdução
Voltar a Toledo em abril de 2025, agora com mais conhecimento e procurando os vestígios de sua história, foi uma experiência enriquecedora que me surpreendeu pela riqueza de construções históricas e museus e também um pouco pelo aspecto vazio de suas ruas na cidade antiga.
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| Toledo cidade muralhada, foto HistoriacomGosto |
Toledo é patrimônio cultural da humanidade, foi a capital do reino visigodo na Espanha, e posteriormente local de convivência entre as três religiões monoteístas (islamismo, judaísmo e cristianismo). Toledo foi ainda a primeira grande cidade a ser reconquistada pelos Reis Cristãos em 1085.
Nessa postagem apresentaremos esse legado cultural e os principais locais que foram testemunhas desse importante momento histórico.
II. - Resumo Histórico
a) Período Romano e Cristão Latino (Séculos II a.C. - V d.C.)
A história de Toledo é milenar, com suas origens mergulhadas nos tempos pré-romanos. Antes da chegada dos romanos, a área onde Toledo se ergue hoje era habitada pelos Carpetanos, um povo celtibero que estabeleceu um importante oppidum (povoado fortificado) no promontório rochoso formado pela curva do rio Tejo. Esta localização estratégica, naturalmente defensável, já era reconhecida pela sua importância muito antes da colonização romana. Foi sobre este assentamento celtibero, e sob o domínio romano, que a cidade começou a se consolidar. Conquistada pelos romanos em 192 a.C., foi nomeada Toletum e tornou-se um importante centro administrativo e comercial da província da Tarraconense. A romanização trouxe infraestrutura, como aquedutos, estradas e um circo, e o latim se tornou a língua dominante.
A história de Toledo remonta aos tempos pré-romanos, mas foi sob o domínio romano que a cidade começou a se consolidar. Conquistada pelos romanos em 192 a.C., foi nomeada Toletum e tornou-se um importante centro administrativo e comercial da província da Tarraconense. A romanização trouxe infraestrutura, como aquedutos, estradas e um circo, e o latim se tornou a língua dominante.
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| Ruínas do Circo romano de Toledo, foto de © Quintanilla em dreamstime.com |
Com a expansão do Cristianismo, Toledo emergiu como um centro episcopal significativo na Hispânia Romana. A tradição cristã em Toledo é antiga, e a cidade se tornou um baluarte da fé no final do Império Romano, estabelecendo as bases para sua futura proeminência religiosa.
Reino Visigodo (Séculos V - VIII)
Após a queda do Império Romano, Toledo foi conquistada pelos visigodos no século VI e tornou-se a capital do Reino Visigodo da Hispânia. Sob o domínio visigótico, Toledo floresceu como um centro político e religioso. Os concílios de Toledo, assembleias de bispos e nobres, foram cruciais para a consolidação da doutrina católica e a formação de uma identidade visigótica e hispânica, estabelecendo as leis e a organização eclesiástica do reino. O legado visigótico é visível em vestígios arquitetônicos e na riqueza de sua ourivesaria.
Domínio Islâmico e a Convivência das Três Culturas (Séculos VIII - XI)
Em 711, a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos, e Toledo caiu em 712, tornando-se parte do Al-Andalus. Sob o nome de Tulaytulah, a cidade se transformou em um importante centro cultural e intelectual do Islã ocidental. Apesar de inicialmente resistir à autoridade de Córdoba, Toledo se consolidou como uma das cidades mais influentes da taifa (reinos muçulmanos independentes) após o desmembramento do Califado de Córdoba no século XI.
Durante o período islâmico, Toledo experimentou um notável florescimento cultural e científico. O mais marcante, no entanto, foi a convivência das três culturas: muçulmanos, judeus e cristãos (os moçárabes, cristãos que viviam sob domínio muçulmano). Essa convivência, embora não isenta de tensões e períodos de maior ou menor tolerância, permitiu um intercâmbio de conhecimentos sem precedentes. A cidade se tornou um centro de tradução, onde obras gregas e romanas foram traduzidas do árabe para o latim, contribuindo significativamente para o Renascimento europeu. Sinagogas, mesquitas e igrejas coexistiam, e o rico legado arquitetônico e artístico desse período ainda hoje define a paisagem da cidade.
A Reconquista e o Reino de Castela (Século XI - XV)
A cidade foi um dos primeiros grandes alvos da Reconquista cristã. Em 1085, Toledo foi reconquistada por Afonso VI de Castela, marcando um ponto de virada na história da Península Ibérica. Afonso VI se autodenominou "Imperador das Três Religiões", e a cidade continuou a ser um polo de intercâmbio cultural, mantendo muitas de suas características multiculturais, mesmo sob domínio cristão.
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Alfonso VI de Leão e Castela, catedral de Santiago de Compostella |
Durante os séculos seguintes, Toledo foi capital do Reino de Castela por um tempo e manteve sua importância como centro eclesiástico, com a construção da imponente Catedral de Santa Maria de Toledo. A cidade continuou a ser um epicentro de tradução, com a famosa Escola de Tradutores de Toledo, que disseminou o conhecimento árabe e clássico pela Europa.
Situação Atual
Hoje, Toledo é uma das cidades históricas mais importantes da Espanha, reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO. Ela atrai milhões de turistas anualmente, que vêm admirar sua arquitetura medieval, suas estreitas ruas de paralelepípedos e a rica herança cultural das "três culturas".
III. - O Legado da convivência das três religiões,
Em Toledo, a convivência de muçulmanos, judeus e cristãos foi um fenômeno complexo e dinâmico, que, apesar das tensões ocasionais, levou a um florescimento cultural e intelectual ímpar na Europa medieval. Este intercâmbio não se limitou à tolerância religiosa, mas se manifestou em diversas esferas:
Conhecimento e Ciência: Toledo tornou-se um centro vibrante de tradução. Obras clássicas gregas e romanas, preservadas e desenvolvidas no mundo islâmico, eram traduzidas do árabe para o latim e para o castelhano. Estudiosos cristãos, judeus e muçulmanos trabalhavam lado a lado, compartilhando e traduzindo textos de filosofia, medicina, matemática, astronomia e alquimia. Esta "Escola de Tradutores de Toledo" foi fundamental para reintroduzir o conhecimento clássico na Europa ocidental, que estava em grande parte isolada desses textos.
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| copistas na escola de tradutores de toledo |
Filosofia e Literatura: As ideias de filósofos islâmicos como Averróis e Avicena, e judeus como Maimônides, influenciaram profundamente o pensamento cristão medieval. A poesia e a literatura também se enriqueceram com a fusão de estilos e temas.
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Salomão ibne Gabirol (c. 1021-1058), Museu Sefardita, pintado por Daniel Quintero, foto HistoriacomGosto |
A pintura retrata Salomão ibne Gabirol (c. 1021-1058), um proeminente filósofo e poeta judeu de Al-Andalus. Ele é conhecido por sua obra filosófica, "A Fonte da Vida" (Fons Vitæ), e por sua extensa produção poética, cujos poemas foram incorporados à liturgia judaica.
Vida Cotidiana: As culturas se entrelaçavam no dia a dia. Roupas, culinária, música e costumes foram mutuamente influenciados. Mesmo sob domínio cristão, a presença de comunidades muçulmanas e judaicas era significativa, e suas habilidades artesanais e conhecimentos eram valorizados.
Língua: O castelhano incorporou inúmeras palavras de origem árabe, muitas das quais ainda são usadas hoje, especialmente em áreas como agricultura, ciência e administração. Exemplos: Ojalá, Aceite, Azúcar, Almohada, Álgebra, ...,.
A Arquitetura Mudéjar: Um Diálogo Artístico entre Culturas
A arquitetura Mudéjar é o testemunho mais eloquente e visual dessa simbiose cultural. O termo "mudéjar" refere-se aos muçulmanos que permaneceram em território cristão após a Reconquista, mantendo sua religião e muitos de seus costumes, mas submetidos ao governo cristão.
O estilo Mudéjar surgiu nos reinos cristãos ibéricos (Castela, Aragão, Leão) a partir do século XII, combinando a linguagem arquitetônica e construtiva cristã (gótico, românico) com a rica tradição ornamental e técnica islâmica. Não era apenas uma imitação, mas uma fusão criativa.
Características da Arquitetura Mudéjar:
a) Uso predominante do Tijolo e Gesso: O gesso (argamassa) também era amplamente utilizado para decorações esculpidas.
b) Artesanato da Madeira: Tetos de madeira trabalhados
c) Azulejaria: A utilização de azulejos coloridos para revestir paredes e pisos, criando mosaicos e padrões geométricos e florais.
d) Artesanato de Superfície: Os Mudéjares eram mestres na aplicação de decorações intrincadas em superfícies.
e) Adaptação Cristã: Essas técnicas e ornamentações eram aplicadas a edifícios de tipologia cristã, como igrejas, sinagogas palácios e muralhas. O resultado era uma fusão única: um edifício cristão na sua função e planta, mas com uma estética e técnica de construção profundamente enraizadas na tradição islâmica.
III.1. A Herança Muçulmana
A Mesquita de Bab al-Mardum, hoje conhecida como Ermida do Cristo da Luz (Ermita del Cristo de la Luz), é um dos tesouros mais notáveis de Toledo e a única mesquita da cidade que sobreviveu praticamente intacta do período islâmico. Ela é um testemunho arquitetônico singular da Toledo muçulmana anterior à Reconquista, encapsulando a essência do estilo califal do ano 1000 d.C.
Construída por volta de 999-1000 d.C., esta pequena mesquita reflete a arquitetura califal do Califado de Córdoba, um período de grande esplendor artístico e intelectual no Al-Andalus.
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Antiga Mesquita / Igreja Cristo de la Luz, foto © Antonio Ribeiro em dreamstime.com
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A mesquita é um exemplo clássico da arquitetura religiosa islâmica da época, notável por sua simplicidade externa e a complexidade e beleza de seu interior.
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| Interior da Igreja Cristo de la luz, foto wikipedia |
A Transformação em Igreja: Ermida do Cristo da Luz
Após a Reconquista de Toledo por Afonso VI em 1085, muitos edifícios religiosos islâmicos foram convertidos para o culto cristão. Segundo a lenda, Afonso VI, durante a sua entrada triunfal na cidade, avistou uma luz misteriosa no local da mesquita, onde foi encontrada uma imagem de Cristo que havia sido escondida pelos cristãos moçárabes. Em homenagem a este evento, a mesquita foi consagrada como ermida e rebatizada como Ermida do Cristo da Luz.
A transformação implicou a adição de uma abside de estilo Mudéjar à estrutura original islâmica no século XII. Esta abside, construída em tijolo e decorada com arcos cegos e padrões geométricos, é um exemplo primário do estilo Mudéjar, mostrando como os construtores cristãos adotaram e adaptaram as técnicas e a estética islâmica para seus próprios edifícios religiosos.
III.2. O Florescimento Judeu (A Judería)
A Judería (Bairro Judeu) de Toledo não era apenas um conjunto de ruas onde viviam judeus; era um micro-universo dentro da cidade, um complexo e vibrante centro social, religioso, económico e intelectual. Situada na parte oeste da cidade, protegida pela muralha, a Judería de Toledo foi uma das mais importantes e influentes da Península Ibérica, florescendo particularmente sob o domínio islâmico e, posteriormente, sob os reis cristãos de Castela, que frequentemente dependiam das habilidades e conhecimentos de seus súditos judeus.
Os judeus desempenhavam um papel crucial na economia toledana. Muitos eram comerciantes, artesãos especializados (ouriques, tecelões, curtidores), médicos renomados, financistas e administradores da coroa.
A Judería era um polo de saber. As escolas rabínicas e os centros de estudo judaicos eram famosos, atraindo estudantes e sábios de toda a Europa. Os judeus toledanos eram poliglotas, dominando o hebraico, o árabe e o latim, e muitas vezes o castelhano. Essa habilidade linguística, aliada ao seu profundo conhecimento da filosofia grega (preservada por textos árabes) e da ciência islâmica, os tornou mediadores cruciais na famosa Escola de Tradutores de Toledo.
As Sinagogas: Testemunhos da Força Judaica de Toledo
A magnificência e a quantidade de sinagogas em Toledo são o reflexo mais palpável da pujança da sua comunidade judaica. Destacam-se duas sinagogas, hoje convertidas museus, que são testemunhos visíveis da importância intelectual, econômica e cultural dos judeus antes de 1492: a Sinagoga del Tránsito e a Sinagoga de Santa María la Blanca .
A Sinagoga de Santa María la Blanca é um dos exemplos mais emblemáticos e visualmente impactantes da convivência e do intercâmbio cultural e artístico que definiram Toledo medieval. Longe de ser um templo isolado de sua época, ela é uma manifestação arquitetónica pura da fusão de influências religiosas e estéticas.
Construída no final do século XII (por volta de 1180), a Sinagoga de Santa María la Blanca é um testemunho fascinante da presença e da vitalidade da comunidade judaica de Toledo sob o domínio cristão, mas com uma estética profundamente enraizada na tradição islâmica.
A Arquitetura Mudéjar em seu Esplendor Religioso:
O que torna esta sinagoga tão extraordinária é o fato de que, embora fosse um lugar de culto judaico, ela foi construída por mestres-de-obra muçulmanos para patrocinadores judeus, em uma cidade governada por reis cristãos. O resultado é um dos mais belos exemplos de arquitetura mudéjar religiosa.
Arcos em Ferradura: O interior é caracterizado por uma floresta de arcos em ferradura, um elemento arquitetónico icónico da arte islâmica hispânica, que evoca as mesquitas de Al-Andalus. Estes arcos repousam sobre uma série de colunas.
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| Sinagoga Santa Maria La Blanca, foto HistoriacomGosto |
III.2 - A Expressão Cristã
A Catedral Primaz de Santa Maria de Toledo, uma das maiores e mais impressionantes catedrais góticas da Espanha, ergue-se majestosamente no coração da cidade, servindo como um poderoso símbolo da fé cristã e, paradoxalmente, como um testemunho da extraordinária convivência de três religiões que moldou Toledo.
Mais do que apenas um monumental templo católico, sua história e sua própria construção encapsulam a complexidade do passado toledano. Erguida a partir de 1226 sobre o local da antiga Grande Mesquita de Toledo – que, por sua vez, havia sido construída sobre uma basílica visigótica – a catedral é um palimpsesto arquitetónico que reflete as sucessivas camadas culturais e religiosas.
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| Catedral de Toledo, foto de © Vlad Ghiea em dreamstime.com |
Embora sua estrutura predominante seja o gótico francês puro do século XIII, ao longo dos séculos de sua construção e expansão, a Catedral de Toledo absorveu elementos da rica tradição artística local. É notável como, mesmo sendo o principal bastião do Cristianismo em Castela, ela incorpora influências mudéjares em diversos detalhes, como em certas capelas, nos trabalhos de talha e gesso, e especialmente nos tetos de madeira (artesonados) de alguns de seus claustros e dependências.
IV. Toledo em 1085 - O Ano da Reconquista
O ano de 1085 marca um ponto de viragem verdadeiramente monumental na história da Península Ibérica: a conquista de Toledo pelo rei Afonso VI de Leão e Castela. Este evento não foi apenas uma vitória militar, mas um símbolo poderoso do avanço cristão na Reconquista, reconfigurando o mapa político e cultural da Espanha medieval.
Erguida sobre um promontório rochoso, cercada pelo rio Tejo, Toledo era uma fortaleza natural, quase impenetrável. Sua captura representava um feito militar colossal.
Durante séculos, Toledo foi Tulaytulah, uma das cidades mais importantes do Al-Andalus. Sob os muçulmanos, especialmente após a desintegração do Califado de Córdoba, tornou-se a capital de uma poderosa taifa, um centro florescente de saber, arte e comércio.
Para os cristãos, Toledo era a antiga capital do Reino Visigótico, sede de importantes concílios e um baluarte da fé antes da invasão muçulmana. Reconquistá-la era um ato de restauração histórica e religiosa, reivindicando um passado glorioso.
Sua posição central abria caminho para o avanço das campanhas cristãs em direção ao sul, enfraquecendo as restantes taifas e estabelecendo um precedente para futuras conquistas.
A fraqueza de Toledo no momento
Desde a queda do Califado de Córdoba em 1031, Al-Andalus havia se desintegrado em numerosos e pequenos reinos taifa (do árabe ṭawāʾif, "facções"). Estes reinos eram ricos cultural e economicamente, mas politicamente muito fracos e divididos.
O governante da Taifa de Toledo na época, Yahya al-Qadir, era um líder fraco e impopular, que já havia sido deposto uma vez e só conseguiu o trono de volta com a ajuda militar de Afonso VI. Essa dependência o tornou vulnerável.
Afonso VI era um rei ambicioso, com a visão de construir um grande império. A conquista de Toledo seria um passo gigante nessa direção e consolidaria sua liderança entre os monarcas cristãos.
O Início de um Novo Capítulo, Não o Fim da Convivência
Afonso VI entrou em Toledo de forma triunfal, mas a conquista não resultou na expulsão imediata ou na aniquilação das culturas muçulmana e judaica. Pelo contrário, marcou o início de uma nova fase, a da Toledo das Três Culturas sob domínio cristão.
Manutenção das Comunidades: O rei Afonso VI, num ato de pragmatismo e, em certa medida, de respeito (ou talvez reconhecimento da utilidade), permitiu que muçulmanos (mudéjares) e judeus (sefarditas) permanecessem na cidade, mantendo suas leis, suas religiões e suas propriedades, embora agora como súditos do rei cristão e sujeitos a novas tributações. Eles continuaram a habitar seus bairros, como a Judería e a Moura.
V. - Fase final - A Reconquista Completa
O final da Reconquista, culminando em 1492 com a queda de Granada e a expulsão dos judeus, marcou o fim da "Toledo das Três Culturas" em sua forma original. No entanto, o legado arquitetónico e intelectual desse período de coexistência e conflito deixou uma marca indelével, visível em monumentos que continuam a contar a história de uma das cidades mais singulares da Europa.
VI. Toledo nos dias atuais - Um Museu vivo, O que Ver ?
VI.1 - Catedral de Toledo
Majestosa e imponente, a Catedral de Toledo é um dos maiores expoentes do gótico espanhol, elevando-se grandiosamente sobre a cidade. Seu interior deslumbra com a riqueza da Capela-Mor, um espetáculo de talha e cor, e com a incomparável Custódia de Arfe, uma obra-prima de ourivesaria que reflete a opulência da fé católica e a perícia artística da época.
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| Catedral de Toledo, Retro coro, foto de Fernando em Wikipedia |
Visitar a Catedral é mergulhar em séculos de história, arte e espiritualidade. Entre seus inúmeros tesouros, cinco pontos se destacam como essenciais:
A Capela-Mor (Capilla Mayor): Dominada por um espetacular Retábulo-Mor gótico, um verdadeiro políptico de madeira esculpida e dourada que narra cenas da vida de Cristo e da Virgem Maria. É uma das obras mais grandiosas da talha espanhola, impressionando pela riqueza de detalhes e pela sua dimensão colossal.
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| Capela Maior, foto HistoriacomGosto |
O Coro: Localizado no centro da nave principal, o coro possui um imponente cadeiral de madeira com duas ordens. A parte inferior, em estilo gótico, retrata a conquista de Granada e outras cenas históricas, enquanto a superior, renascentista, exibe figuras de santos e profetas. O órgão e as sillerias são obras de arte por si só.
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| Coro, foto HistoriacomGosto |
A Sacristia Maior: Conhecida como "galeria de arte", a sacristia abriga uma coleção inestimável de pinturas, incluindo obras-primas de grandes mestres. O destaque é a coleção de El Greco, com obras como "O Espólio" (El Expolio), uma das mais icónicas pinturas do artista, que pode ser apreciada no seu contexto original.
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| Sacristia com obras de El Greco, foto HistoriacomGosto |
O Tesouro e a Custódia de Arfe: Nesta seção, o visitante é confrontado com a opulência da Igreja. A joia da coroa é a Custódia Processional de Arfe, uma gigantesca obra de ourivesaria em prata e ouro, ricamente ornamentada, que pesa mais de 200 quilos e é utilizada na procissão de Corpus Christi. É uma demonstração sublime da maestria artística e da devoção.
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| Custodia de Arfe, foto de Zarateman em Wikipedia |
O Transparente: Localizado atrás do altar-mor, no deambulatório, o Transparente é uma obra barroca única, criada por Narciso Tomé no século XVIII. É um complexo conjunto de escultura, arquitetura e pintura que se abre para o exterior, permitindo que a luz natural inunde o espaço de uma forma dramática, iluminando a Capela do Sacrário e criando um efeito teatral de glória divina. É um exemplo fascinante do barroco espanhol e da manipulação da luz na arquitetura.
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| El Transparente, foto HistoriacomGosto |
VI.2 - O Alcazar de Toledo
A história do Alcázar remonta aos tempos romanos, quando provavelmente abrigava um praetorium (residência de um governador) ou uma fortificação militar. Os visigodos, após conquistarem a cidade, mantiveram e adaptaram essa estrutura. Com a chegada dos muçulmanos em 711-712, a fortificação romana/visigótica foi transformada em um Alcázar (do árabe al-qasr, que significa castelo ou palácio fortificado), servindo como sede do governo islâmico de Tulaytulah e, posteriormente, como palácio dos reis da Taifa de Toledo.
Quando Afonso VI de Leão e Castela reconquistou Toledo em 1085, o Alcázar passou a ser uma das residências reais dos monarcas cristãos. Embora ainda mantivesse um forte caráter militar, já começava a ser adaptado para funções mais palacianas. Foi um período de transição, onde as estruturas muçulmanas foram gradualmente substituídas ou adaptadas ao gosto cristão.
Os Reis Católicos, Fernando e Isabel, também utilizaram o Alcázar. No entanto, foi seu neto, o imperador Carlos V (século XVI), quem ordenou a maior e mais espetacular transformação do edifício. O objetivo era criar um palácio à altura do maior monarca da Europa, simbolizando o poder do império espanhol.
Após o século XVI, o Alcázar perdeu sua função como residência real principal, à medida que a corte se movia para Madrid. Sofreu vários incêndios devastadores ao longo dos séculos XVII e XVIII, sendo reconstruído em diferentes momentos. No século XIX, foi transformado em uma academia militar.
Atualmente, abriga o Museu do Exército (que detalha a história militar da Espanha desde a pré-história até os dias atuais) e a Biblioteca de Castilla-La Mancha, no seu piso superior.
Visão Geral
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Visão Geral do Alcazar, ponto mais alto de Toledo, foto de @Casto80 em dreamstime.com |
Museu do Exército
Ocupando a maior parte do Alcázar, o museu oferece uma viagem fascinante pela história militar espanhola, desde armas e armaduras antigas até uniformes e documentos históricos. As exposições são bem curadas e proporcionam uma compreensão profunda dos conflitos e eventos que moldaram a nação.
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Arqueiro, foto HistoriacomGosto
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Uniformes, foto HistoriacomGosto
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Rainha Isabel, foto HistoriacomGosto
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Pátio interno
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| Vista patio interno, foto HistoriacomGosto |
Vista externa
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| Vista lateral, foto HistoriacomGosto |
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VI.3 Sinagoga del Transito / Museu Sefardita
A Sinagoga del Tránsito foi construída entre 1356 e 1357 por Samuel ha-Levi Abulafia, tesoureiro-mor do rei Pedro I de Castela ("o Cruel" ou "o Justiceiro"). Samuel ha-Levi era uma das figuras mais proeminentes da comunidade judaica de Toledo e um homem de confiança do monarca, desfrutando de enorme prestígio e riqueza, que se refletem na magnificência da sinagoga que encomendou. A construção num período de relativa tolerância, sob a égide de Pedro I, permitiu tal empreendimento.
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Salão Principal, Sinagoga del Trânsito, foto HistoriacomGosto |
O que torna a Sinagoga del Tránsito particularmente notável é a sua arquitetura. É um exemplo primoroso do estilo mudéjar, que mistura elementos artísticos islâmicos com a função e o patronato judaico, dentro de um contexto cristão.
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Museu Sefardita, foto HistoriacomGosto |
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Museu Sefardita, foto HistoriacomGosto |
A Sinagoga del Tránsito serviu como um ativo centro de culto e vida comunitária para os judeus de Toledo por pouco mais de um século, desde a sua construção em 1357 até a trágica Expulsão dos Judeus da Espanha em 1492, decretada pelos Reis Católicos. Após a expulsão, o edifício foi expropriado e convertido em uma igreja católica, dedicada a Nossa Senhora do Trânsito (daí o nome atual).
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Museu Sefardita, foto HistoriacomGosto |
No século XX, o valor histórico e artístico da antiga sinagoga foi plenamente reconhecido. Em 1964, foi inaugurado no edifício o Museu Sefardita (Museo Sefardí). Seu objetivo é preservar e difundir a cultura, a história e a contribuição dos judeus na Espanha (os sefarditas) antes da sua expulsão. O museu exibe artefatos, documentos e exposições que ilustram a rica herança judaica do país, tornando a própria sinagoga, com sua impressionante arquitetura, a principal peça da coleção.
VI.4 Sinagoga La Blanca
A Sinagoga de Santa María la Blanca foi construída no final do século XII, por volta de 1180, tornando-a uma das mais antigas sinagogas da Europa ainda de pé. Foi edificada em um período em que Toledo já estava sob domínio cristão (desde 1085), mas a comunidade judaica ainda desfrutava de relativa prosperidade e influência. O mais notável é que, embora fosse um templo judaico, a sua construção foi realizada por artesãos muçulmanos para a comunidade judaica, demonstrando um profundo intercâmbio de talentos e estilos.
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| Sinagoga La Blanca, foto HistoriacomGosto |
Em contraste com a exuberância de outros edifícios góticos ou renascentistas, a Sinagoga de Santa María la Blanca impressiona pela sua simplicidade e pela leveza das suas formas.
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| Sinagoga La Blanca, foto HistoriacomGosto |
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As colunas sustentam uma "floresta" de belíssimos arcos em ferradura, um elemento distintivo da arquitetura islâmica do Al-Andalus.
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| Sinagoga La Blanca, foto HistoriacomGosto |
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A Sinagoga funcionou como um centro vital para a comunidade judaica de Toledo por mais de três séculos. Contudo, a situação dos judeus deteriorou-se progressivamente, culminando na expulsão dos judeus da Espanha em 1492 pelos Reis Católicos. Após a expulsão, o edifício foi expropriado e convertido em uma igreja católica. Foi entregue à Ordem Militar de Calatrava e passou a ser conhecida como Igreja de Santa María la Blanca, nome que mantém até hoje. Essa conversão, paradoxalmente, contribuiu para a sua preservação, impedindo a sua demolição ou degradação total.
Antes de ser convertida em igreja e receber o nome de "Santa María la Blanca", a sinagoga era conhecida simplesmente como "A Grande Sinagoga" ou "Sinagoga Maior" de Toledo, dada a sua importância e tamanho dentro da comunidade judaica da cidade.
Atualmente, a Sinagoga de Santa María la Blanca não funciona mais como local de culto (nem judaico, nem cristão), mas sim como um Monumento Nacional e um dos principais pontos turísticos de Toledo.
VI.5 Mosteiro de San Juan de los Reyes: Um Monumento à Vitória e ao Poder Real
O Mosteiro de San Juan de los Reyes foi encomendado pelos Reis Católicos, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, para celebrar uma das suas mais importantes vitórias militares e para servir como seu panteão real, embora eles acabassem por ser sepultados em Granada.
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Mosteiro de San Juan de los Reyes, foto HistoriacomGosto |
A fundação do mosteiro está diretamente ligada à Batalha de Toro, travada em 1476. Esta batalha, embora taticamente inconclusiva, foi uma vitória estratégica crucial para Fernando e Isabel, consolidando o seu direito ao trono de Castela contra Joana, a Beltraneja, e seus aliados portugueses. Para comemorar esta vitória que garantiu a união das coroas de Castela e Aragão, os Reis Católicos prometeram construir um mosteiro.
Toledo foi escolhida por sua importância histórica e simbólica. O mosteiro foi confiado à Ordem Franciscana, da qual Isabel era uma devota. A construção começou em 1477, sob a direção do arquiteto Juan Guas, um dos grandes nomes do gótico isabelino.
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Mosteiro de San Juan de los Reyes, foto HistoriacomGosto
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O estilo arquitetónico de San Juan de los Reyes é o Gótico Isabelino (ou Gótico Flamengo-Castelhano), uma vertente única do gótico que floresceu na Espanha durante o reinado dos Reis Católicos
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| Altar principal da Igreja , foto HistoriacomGosto |
Algumas pinturas no Convento
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| pintura franciscanos do mosteiro, foto HistoriacomGosto |
VI.6 - El Greco, sua vida em Toledo e o Museu de El Greco
A figura de Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido como El Greco, é indissociável de Toledo. A cidade não foi apenas o seu lar, mas o palco onde o seu génio atingiu a sua máxima expressão, e a sua casa-museu tenta recriar essa atmosfera.
a) A Chegada a Toledo e o Início da Fama
El Greco, nascido em Creta (então sob domínio veneziano) em 1541, teve uma formação artística complexa. Iniciou-se na tradição bizantina, depois aprimorou-se em Veneza com mestres como Ticiano e Tintoretto, e posteriormente em Roma. Embora já fosse um pintor com experiência e alguma reputação nos círculos artísticos italianos, não chegou a Toledo como um artista consagrado a nível europeu. Ele buscou fortuna e reconhecimento na corte de Filipe II, em Madrid, mas as suas primeiras obras não foram bem recebidas pelo rigoroso gosto real.
Foi por volta de 1577 que El Greco se estabeleceu em Toledo, procurando um ambiente mais receptivo à sua arte. A cidade, rica em tradição religiosa e com uma efervescência cultural peculiar, ofereceu-lhe as oportunidades que a corte lhe havia negado. Pode-se dizer, portanto, que a sua fama e o desenvolvimento do seu estilo único e inconfundível se consolidaram a partir de Toledo.
b) Toledo: O Palco da Maestria de El Greco e a Relevância de suas Obras
El Greco viveu em Toledo durante a maior parte da sua vida, desde 1577 até à sua morte em 1614. A cidade, com sua paisagem dramática, seu misticismo profundo e sua rica herança religiosa, exerceu uma influência profunda em sua arte, e vice-versa. Em Toledo, ele encontrou um mercado para suas grandes composições religiosas, retratos e paisagens urbanas.
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| Entrada Museu, foto HistoriacomGosto |
As suas obras em Toledo são de uma importância capital para a história da arte, marcando a transição do Renascimento para o Maneirismo e prefigurando o Barroco. Exemplos como "O Espólio" (para a Catedral) e "O Enterro do Conde de Orgaz" (para a Igreja de Santo Tomé) não são apenas obras-primas; eles definem a sua visão artística e a sua capacidade de infundir uma profunda espiritualidade em suas figuras alongadas, cores vibrantes e composições dinâmicas. Ele se tornou o pintor mais requisitado da cidade, recebendo importantes encomendas de igrejas, mosteiros e da nobreza local.
c) A Casa-Museu de El Greco: Um Retrato da Vida do Artista
A atual Casa-Museu de El Greco não é a casa original onde o pintor viveu. A residência verdadeira de El Greco, conhecida como “Casas del Marqués de Villena”, ficava num local próximo e foi demolida. O museu de hoje é uma reconstrução idealizada de uma casa toledana do século XVI/XVII, que tenta recriar o ambiente e o estilo de vida que El Greco e sua família teriam levado.
Inaugurado em 1911, o museu foi iniciativa do Marquês de la Vega-Inclán, com o objetivo de honrar a memória do pintor e apresentar um retrato do Toledo da sua época. Mais do que uma residência autêntica, é um espaço museológico concebido para evocar a vida doméstica e artística do pintor em Toledo.
Acervo do Museu
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| Galeria dos Apóstolos, Museu El Greco, Toledo, foto HistoriacomGosto |
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Jesus, El greco, foto HistoriacomGosto
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| Lágrimas de Pedro, El greco, foto HistoriacomGosto |
VI.7 - Igreja de São Tomé
A Igreja de Santo Tomé tem origens muito antigas, remontando à era visigótica, quando provavelmente existia um templo cristão no local. Após a conquista muçulmana, foi convertida numa mesquita.
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Igreja de Santo Tomé, Toledo, foto wikipedia, José Luis Filpo Cabana |
A igreja atual foi erguida no século XII após a Reconquista de Toledo, sobre as fundações da antiga mesquita. No entanto, sua aparência atual deve-se principalmente a uma grande reconstrução realizada no século XIV (a partir de 1323) por iniciativa de Gonzalo Ruiz de Toledo, o Senhor de Orgaz. Ele financiou a ampliação e embelezamento da igreja, resultando na magnífica torre mudéjar e no estilo que vemos hoje.
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| Altar, foto HistoriacomGosto |
A arquitetura da igreja é um esplêndido exemplo do Mudéjar Toledano, um estilo que combina a arte cristã com as técnicas e elementos decorativos islâmicos, executados por artesãos muçulmanos para patronos cristãos.
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O enterro do Conde de Orgaz, El Greco, foto HistoriacomGosto |
A Igreja de Santo Tomé ainda funciona como uma igreja paroquial católica, onde se celebram missas e outros ritos religiosos. No entanto, a sua principal função turística e cultural é a de um espaço expositivo permanente para "O Enterro do Conde de Orgaz". Uma área específica, separada da nave principal, foi criada para permitir que os visitantes vejam o quadro de El Greco, que está numa capela dedicada, precisamente, ao enterro do Conde.
VI.8 - Museu de Santa Cruz
O edifício do Museu de Santa Cruz foi originalmente um Hospital e Orfanato de Santa Cruz, fundado em 1491 pelos Reis Católicos, Isabel e Fernando. A sua construção iniciou-se em 1514, já sob o reinado de Carlos I (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico), e é considerado uma das obras-primas do primeiro Renascimento espanhol, com uma forte influência do estilo Plateresco (uma variação espanhola do Renascimento que integra elementos góticos e mudéjares na ornamentação).
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| Museu Santa Cruz, foto HistoriacomGosto |
O museu abriga uma coleção cultural da província de Toledo que vai do período paleolítico à era contemporânea. Seu acervo inclui importantes obras de arte, como pinturas de El Greco, e peças de arqueologia romana.
O acervo de Belas Artes do museu inclui uma seção dedicada a pinturas da escola de Toledo dos séculos XVI e XVII, com especial destaque para as obras de El Greco, como "A Sagrada Família" .
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| A Sagrada Família, El Greco, foto HistoriacomGosto |
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Cristo se despedindo de sua Mãe, El Greco, foto HistoriacomGosto |
VI.9 - Igreja de São Romão (Museu Visigodos e Concílios)
Acredita-se que a igreja de San Román tenha sido fundada sobre uma estrutura visigótica que, por sua vez, pode ter sido erguida sobre uma basílica romana do século IV. Toledo foi a capital do Reino Visigótico na Península Ibérica, e muitos importantes concílios e sínodos foram realizados aqui, influenciando a religião e a política da época. O local onde hoje se encontra San Román era, sem dúvida, um ponto de importância.
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| Igreja de São Romão, foto HistoriacomGosto |
Após a conquista muçulmana de Toledo em 711-712, a estrutura pode ter sido adaptada para uso islâmico, talvez como uma mesquita, como era comum com muitos edifícios cristãos. No entanto, com a reconquista cristã da cidade por Afonso VI em 1085, a igreja foi reconsagrada ao culto cristão.
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| Igreja de São Romão, foto HistoriacomGosto |
A estrutura que vemos hoje é majoritariamente uma reconstrução mudéjar do século XIII. Os mudéjares eram artesãos muçulmanos que permaneceram em território cristão e aplicaram suas técnicas e estilos artísticos na construção de edifícios para os novos governantes cristãos.
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| Igreja de São Romão, foto HistoriacomGosto |
Vestígios Visigóticos
Embora a igreja tenha sido extensivamente reconstruída no estilo mudéjar, ela ainda conserva elementos que testemunham suas origens visigóticas:
Fundamentos e Planta: Estudos arqueológicos revelam a presença de fundamentos e parte da planta original visigótica sob a estrutura atual. O museu permite visualizar essas camadas históricas.
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| Igreja de São Romão, foto HistoriacomGosto |
Elementos Reutilizados (Spolia): Dentro da igreja, especialmente nas colunas e capitéis que separam as naves, é possível observar alguns elementos visigóticos originais que foram reutilizados pelos construtores mudéjares. Podem ser capitéis, fustes de colunas ou bases, que se destacam pelo seu estilo mais rústico e pelos motivos decorativos da arte visigótica.
VI.10- Igreja dos Jesuítas (Sagrados Corações de Jesus e Maria)
A Igreja dos Jesuítas em Toledo, formalmente conhecida como Iglesia de San Ildefonso, é um dos edifícios religiosos mais impressionantes da cidade, dominando o horizonte com suas imponentes torres. É um excelente exemplo da arquitetura barroca espanhola e um marco importante na história de Toledo.
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Igreja de Santo Idelfonso (Igreja dos Jesuítas) foto de © Aagje De Jong em dreamstime.com |
A construção da Igreja de San Ildefonso foi iniciada no início do século XVII (por volta de 1629) pela Companhia de Jesus (Jesuítas). O projeto era ambicioso e fazia parte de um complexo maior que incluía um colégio (o Colégio Imperial de San Ildefonso), destinado à formação e educação. Os Jesuítas, conhecidos pela sua dedicação à educação e pela sua arte religiosa, desejaram uma igreja que refletisse o seu poder e a sua influência na Contrarreforma. A construção foi lenta e durou mais de 100 anos, sendo concluída apenas em meados do século XVIII.
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| Nave principal Igreja Jesuíta, foto HistoriacomGosto |
Durante o tempo em que funcionou, a Igreja e o Colégio de San Ildefonso foram um importante centro intelectual e religioso, refletindo a força da Companhia de Jesus em Espanha.
A história da igreja é intrinsecamente ligada à história da Companhia de Jesus. Após a expulsão dos Jesuítas de Espanha em 1767 por Carlos III, o edifício perdeu a sua função original, e o seu património artístico foi disperso.
Hoje, a Igreja de San Ildefonso serve como paróquia, e o antigo colégio abriga parte da Universidade de Castela-La Mancha.
VI.11 - Portas principais da Cidade
a) Puerta del Cambrón
A porta possivelmente existia na época visigótica e já foi chamada de "Porta dos Judeus" devido à sua proximidade com a antiga judiaria. Seu nome atual vem de uma planta espinhosa chamada "cambronera", que crescia nas proximidades.
O portão, construído com tijolo e pedra, tem duas fachadas, um pátio central e quatro torres, com pináculos característicos de ardósia. A estrutura atual é resultado de uma reconstrução importante no século XV e de outra reforma em 1576, durante o reinado de Felipe II.
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| Puerta del Cabron, foto HistoriacomGosto |
Na fachada interior, há uma estátua de Santa Leocádia, padroeira da cidade. Atualmente, a Puerta del Cambrón é a única das portas de Toledo que pode ser atravessada por carros.
b) Puerta Nova de Bisagra
A Puerta de Bisagra Nova foi erguida entre 1550 e 1559 sob o reinado do imperador Carlos V, com projeto atribuído ao célebre arquiteto Alonso de Covarrubias (o mesmo que trabalhou no Alcázar). Foi concebida como a grande entrada triunfal da cidade para quem chegava do norte, substituindo a antiga porta muçulmana, que já não correspondia à magnificência da cidade imperial.
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| Puerta Nueva de Bisagra, foto de Martin Putz em wikipedia |
Seu estilo é predominantemente renascentista, mas com fortes traços de fortaleza, refletindo a dupla função de portal de honra e elemento defensivo.
VI.12 - Artesanatos e coisas típicas de Toledo
a) Damasquinado Toledano (Damasquino)
É, talvez, o artesanato mais distintivo e elegante de Toledo. O damasquinado é uma técnica de incrustação de metais preciosos (ouro, prata) em aço ou bronze, criando desenhos complexos e cintilantes.
b) Mazapán de Toledo (Maçapão de Toledo)
Toledo é a capital espanhola do maçapão, uma doce tradição que remonta aos tempos medievais.
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| Marzapã de Toledo, foto de internet |
c) Cerâmica Toledana e da Região
Embora a famosa cerâmica de Talavera de la Reina seja de uma cidade próxima, Toledo também tem sua própria produção e lojas que vendem uma grande variedade de cerâmica decorativa e utilitária.
VI.13 - Estação Ferroviária
A Estação Ferroviária de Toledo é, por si só, uma obra de arte e uma das portas de entrada mais impressionantes para a cidade histórica. Longe de ser apenas um ponto de partida e chegada, é um monumento que reflete a rica herança arquitetónica de Toledo.
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| Estação ferroviária, foto HistoriacomGosto |
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| Estação ferroviária, foto HistoriacomGosto |
VI.14 - Áreas Urbanas de Toledo
A maior parte dos habitantes de Toledo vivem fora do centro histórico. A Cidade Histórica, murada e cheia de ruas estreitas e íngremes, é predominantemente uma área turística e administrativa (onde ficam os prédios históricos, museus e a Catedral). Muitas das casas antigas no centro são usadas como hotéis, alojamentos turísticos ou estão vazias.
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| Praça Zocodovo, foto HistoriacomGosto |
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Praça de San Vicente (calle de los reyes catolicos), Toledo, foto HistoriacomGosto |
Os moradores de Toledo residem majoritariamente nas áreas mais modernas, situadas fora das muralhas, como Santa Teresa - Vista Hermosa, Polígono Residencial de Santa María de Benquerencia, Áreas próximas à Puerta de Bisagra
VII. - Referências
https://chaveri.blogspot.com/2014/02/escola-de-tradutores-de-toledo.html
Todo Toledo - Edição Escudo de Ouro
Notas e fotografias de Viagem - HistoriacomGosto
Wikipedia - Toledo
ChatGpt - Pesquisas Toledo