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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Fez, a capital imperial do Marrocos

 1. - Introdução - A Fundação de Fez e Seus Primeiros Habitantes


Antes mesmo da chegada do Islã, a região onde Fez floresceria já era habitada por diversas tribos berberes, como os Sanhaja, Zenata e Masmouda. Essas comunidades viviam em assentamentos dispersos, aproveitando as terras férteis do vale do rio Fez. Não havia, contudo, uma cidade unificada ou um grande centro urbano como o que viria a ser construído.



A história de Fez como a conhecemos começa com a chegada da Dinastia Idrisid.


2. - Resumo Histórico


2.1 - Dinastia Idrisid (789 - 974 d.C.): O Nascimento da Capital Espiritual


Após a Revolução Abássida (750 d.C.), que derrubou os Omíadas e estabeleceu o Califado Abássida em Bagdá, os descendentes de Ali ibn Abi Talib (genro e primo do Profeta Maomé, e quarto califa do Islão), conhecidos como Alids, foram vistos como uma ameaça ao novo poder. Os Abássidas temiam que os Alids, por sua linhagem sagrada, pudessem reunir apoio e contestar sua legitimidade.

Um evento crucial foi a revolta Alid em Meca, que resultou na brutal Batalha de Fakhkh. Muitos Alids foram massacrados, e os que sobreviveram tiveram que fugir para escapar à perseguição.

Entre os poucos sobreviventes estava Idris ibn Abd Allah al-Kamil, um descendente direto de Hasan, neto do Profeta Maomé. Para salvar sua vida e a linhagem de sua família, Idris I fugiu do Oriente Médio, atravessando o Egito e o Magrebe (norte da África).

A Escolha do Marrocos e a Ascensão de Idris I

Idris I encontrou refúgio na região do Magrebe, que na época era um mosaico de tribos berberes diversas e independentes, muitas das quais haviam abraçado o Islam, mas mantinham uma forte autonomia local. O poder abássida no Magrebe era fraco e descontínuo, e havia diversas rebeliões e movimentos sectários.

Abertura Política: Essa fragmentação e a distância de Bagdá tornavam o Magrebe um local ideal para Idris I estabelecer um novo centro de poder independente.

Apoio Berber: Ele foi acolhido pela poderosa tribo berbere Awraba, que residia perto da antiga cidade romana de Volubilis (Walili, em árabe). Reconhecendo sua linhagem sagrada e seu carisma, os Awraba, liderados por Abu al-Hassan Musa ibn Abi al-Afia, o proclamaram Imã em 789 d.C.

Berber no deserto, foto HistoriacomGosto



Legitimidade Religiosa: A descendência de Idris I do Profeta Maomé conferia-lhe uma imensa autoridade religiosa (baraka), o que foi fundamental para sua aceitação e para a unificação das tribos berberes sob sua liderança. Ele se apresentou como um líder justo e piedoso, capaz de trazer ordem e uma forma "pura" do Islão.

A Razão Principal para a Escolha do Local de Fez (e o papel de Idris II)

Idris I iniciou a construção de um assentamento na margem direita do rio Fez, conhecido como Madinat Fas (Cidade de Fez). No entanto, o verdadeiro arquiteto da cidade como uma grande capital foi seu filho e sucessor, Idris II.

Idris I foi assassinado em 791 d.C., supostamente por envenenamento a mando do califa abássida Harun al-Rashid. Seu filho, Idris II, nasceu pouco depois e assumiu o trono ainda criança. Ao atingir a maioridade, Idris II, com sua visão e energia, percebeu que precisava de uma capital que refletisse a ambição de sua nova dinastia e servisse como um centro estratégico e econômico.

A escolha do local para Fez, mais especificamente, foi motivada por várias razões cruciais:

Abundância de Água: O Oued Fez (Rio Fez), com seus afluentes e fontes, garantia um suprimento constante e abundante de água potável para a população e para a irrigação das terras agrícolas circundantes. A água era vital para o crescimento de uma grande cidade, especialmente em uma região semiárida.

Oued Fez (Rio Fez), foto https://ouedaggai.com/


Solo Fértil: O vale do rio Fez possuía terras férteis, ideais para a agricultura, o que garantiria o sustento da população e o desenvolvimento econômico baseado na produção de alimentos. 

Posição Estratégica e Defensável: O local oferecia uma posição naturalmente defensável, rodeada por colinas. Essa topografia facilitava a construção de muralhas e a proteção contra ataques. 

Muralhas em Fez, foto em dreamstime.com


Além disso, Fez estava localizada em um ponto de intersecção de rotas comerciais importantes:

- Rotas que ligavam o Atlântico ao Mediterrâneo (via Tlemcen e Kairouan).

- Rotas que se estendiam para o sul, conectando o Marrocos às minas de ouro e aos mercados da África Ocidental (subsaariana).

- Rotas para o leste, em direção ao Magrebe central e ao Egito.


Recursos Naturais para Construção: A região oferecia argila, madeira e pedras, materiais essenciais para a construção das habitações, mesquitas, mercados e infraestruturas necessárias para uma cidade em crescimento.

Visão de Idris II: Idris II não se contentou com um simples assentamento. Ele tinha a visão de construir uma verdadeira metrópole, um centro político, econômico, religioso e cultural que rivalizasse com as grandes cidades do Oriente. Em 808 d.C., ele fundou uma segunda cidade na margem esquerda do rio, Al-Aliya, incentivando ativamente a migração de artesãos, comerciantes, estudiosos e famílias muçulmanas de Kairouan (atual Tunísia) e, crucialmente, de Al-Andalus (Península Ibérica).

- Os imigrantes de Al-Andalus se estabeleceram predominantemente na margem esquerda (Al-Aliya), que ficou conhecida como "Adwat al-Andalus" (bairro dos Andaluzes).

- Os imigrantes de Kairouan e outras partes do Magrebe se estabeleceram na margem direita (Madinat Fas), conhecida como "Adwat al-Qarawiyyin" (bairro dos Kairuaneses).

- Essa imigração trouxe consigo um vasto conhecimento em arquitetura, urbanismo, artesanato, teologia e comércio, impulsionando o desenvolvimento e a sofisticação da cidade.
 
  • Desenvolvimentos Significantes:

- A criação de Fez marcou o nascimento da primeira capital islâmica do Marrocos, um centro de poder e fé.

- Em 859 d.C., duas irmãs, Fatima al-Fihri e Mariam al-Fihri, filhas de um rico comerciante tunisiano, fundaram instituições que mudariam Fez: Fatima fundou a Universidade de Al-Qarawiyyin (inicialmente uma mesquita e centro de ensino) e Mariam a Mesquita de Al-Andalus.

Al-Qarawiyyin é reconhecida hoje como a universidade mais antiga do mundo ainda em funcionamento, solidificando a importância de Fez como um farol do saber islâmico.

A fundação dos Idrisid representou uma secessão do poder abássida, estabelecendo um califado independente no oeste islâmico.


2.2 - O Período Zenata (Séculos X e XI): Fragmentação e Disputa


Após a queda dos Idrisid, Fez entrou em um período de instabilidade. A cidade tornou-se um ponto de disputa entre as grandes potências regionais da época: o Califado Fatímida (do Egito) e o Califado Omíada de Córdoba (na Península Ibérica).

Fez trocou de mãos várias vezes, e o poder foi frequentemente exercido por chefes tribais locais  Zenata, resultando em um período de relativa estagnação em termos de grandes construções, com foco maior em fortificações.


2.3 Dinastia Almorávida (1061 - 1146 d.C.): Unificação e Expansão


Os Almorávidas unificaram as duas partes de Fez (Fas al-Bali e Al-Aliya), derrubando as muralhas internas que as dividiam. 

Eles fortaleceram as muralhas externas da cidade, construíram novas pontes e renovaram a infraestrutura urbana, preparando Fez para se tornar uma metrópole de um vasto império. 

A cidade prosperou como um centro comercial e intelectual dentro do império Almorávida, que se estendia desde o Senegal até a Península Ibérica.

A conquista de Fez pelos Almorávidas foi parte de um movimento maior de unificação e expansão do seu império.


2.4 - Dinastia Almóada (1146 - 1248 d.C.): 


Os Almóadas, com sua doutrina religiosa mais rigorosa, destruíram muitas das construções almorávidas que consideravam contrárias aos seus princípios. 

Eles reconstruíram e reforçaram significativamente as muralhas de Fez, dando-lhes a monumentalidade que ainda é visível hoje. 

Embora a capital do império Almóada tenha sido transferida para Marrakech, Fez manteve sua importância como um centro religioso e intelectual, um bastião da ortodoxia e do saber.

A conquista Almóada de Fez foi marcada por um cerco violento, que resultou em grande destruição antes da sua subjugação.


2.5 - Dinastia Merínida (1248 - 1465 d.C.): A Idade de Ouro Imperial de Fez


Os Merínidas fizeram de Fez a sua capital imperial, inaugurando o que muitos consideram a "Idade de Ouro" da cidade.

Em 1276, Abu Yusuf Yaqub fundou Fes el-Jdid (Nova Fez), adjacente à antiga medina (Fez al-Bali). Esta nova cidade incluía o majestoso Palácio Real, o Mellah (bairro judeu, inicialmente estabelecido pelos Almóadas, mas expandido pelos Merínidas) e uma grande mesquita, tudo protegido por novas muralhas.

Os Merínidas foram grandes patronos da educação e da arquitetura, construindo inúmeras e belíssimas madrassas (escolas corânicas) que ainda hoje são maravilhas arquitetónicas de Fez: Madrassa Bou Inania, Madrassa Attarine, Medersa Sahrij e Madrassa Saffarine, entre outras. Fez tornou-se o epicentro do saber islâmico no Magrebe.

Houve um grande desenvolvimento urbano, comercial e cultural, com a cidade atraindo estudiosos, comerciantes e artesãos de todo o mundo islâmico. 

A ascensão dos Merínidas consolidou seu poder sobre o Marrocos e Fez, mas também foi marcada por confrontos com os reinos cristãos na Península Ibérica, que contribuíram para o aumento da população de judeus e muçulmanos andaluzes em Fez.


2.6 - Dinastia Wattásida (1465 - 1549 d.C.): Declínio e a Presença Portuguesa


Houve um enfraquecimento do poder central e disputas internas. 

O tempo com os Portugueses: Embora Fez não tenha sido conquistada ou ocupada diretamente pelos portugueses, este período foi marcado pela intensa expansão portuguesa no litoral marroquino. Cidades costeiras como Ceuta, Tânger, Arzila, Safim, Azemmour e Mazagão foram ocupadas ou fortificadas por Portugal. Essa presença gerou grande pressão econômica e militar sobre o reino de Fez. Os Wattásidas tentaram, com pouco sucesso, resistir a esse avanço, o que enfraqueceu ainda mais sua autoridade e abriu caminho para uma nova dinastia.


2.7 - Dinastia Saadiana (1549 - 1659 d.C.): Renascimento e Vitórias Decisivas


Os Saaditas unificaram o Marrocos, expulsando os Wattásidas. Embora Fez tenha perdido seu status de capital principal para Marrakech durante parte do seu reinado, a cidade continuou a ser um importante centro cultural e religioso.  

Eles investiram na construção de fortificações para proteger o reino, inclusive Fez, contra a crescente ameaça otomana e cristã.

O comércio transaariano, especialmente de ouro, prosperou sob os Saaditas.

A Batalha de Alcácer-Quibir (ou Batalha dos Três Reis) em 1578 foi um evento definidor. Nela, as forças Saadianas, com algum apoio otomano, derrotaram decisivamente o exército português e seu rei D. Sebastião, que morreu em combate. Esta vitória não apenas cimentou a independência marroquina, mas também encerrou as ambições portuguesas de dominar o Marrocos e marcou um período de grande prestígio para a dinastia Saadiana.


2.8 - Dinastia Alaouite (1666 d.C. - Presente): A Dinastia Reinante

Após um período de anarquia que se seguiu à queda dos Saaditas, os Alaouites emergiram para restaurar a unidade do Marrocos. Fez alternou como capital com Meknès e, mais tarde, Rabat. 

A dinastia Alaouite tem sido a guardiã do patrimônio religioso e cultural de Fez, mantendo e renovando suas mesquitas e medersas. 

A cidade continuou a ser um polo de educação islâmica e de artesanato tradicional. 

A ascensão dos Alaouites marcou o fim da anarquia e o início de uma nova era de estabilidade relativa. A dinastia resistiu a várias tentativas de invasão europeia ao longo dos séculos.


2.9 - Protetorado Francês e Independência (1912 - 1956): Modernização e Luta Nacionalista


Em 1912, o Tratado de Fez foi assinado na cidade, estabelecendo oficialmente o Protetorado Francês sobre o Marrocos, o que trouxe profundas mudanças políticas e sociais.  

Foi durante este período que se construiu a "Ville Nouvelle" (Cidade Nova) fora das muralhas da medina, com infraestruturas modernas, estradas e edifícios de estilo europeu, separada da antiga Fez (Fes al-Bali), que foi preservada como um monumento histórico.  

Fez perdeu seu status de capital política para Rabat, que se tornou a sede administrativa do protetorado.  

A ocupação colonial impulsionou o crescimento do movimento nacionalista marroquino, que culminou na independência do país em 1956.


2.10 - Marrocos Independente (1956 - Presente): Preservação e Continuidade


Após a independência, Fez manteve sua importância como um centro cultural, religioso e espiritual.

Em 1981, a medina de Fes al-Bali foi classificada como Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecendo seu valor histórico e arquitetônico inestimável. Desde então, tem havido um esforço contínuo para a preservação e restauração de seus monumentos.

A cidade continua a ser um centro vibrante de artesanato, educação e turismo, atraindo visitantes de todo o mundo que buscam mergulhar em sua história milenar.

3. - A Fez de Hoje, o que ver e visitar




4. - Considerações adicionais





5. Referência






6. - Outras Publicações Relacionadas

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Chefchaouen - A Cidade Azul Encantada do Marrocos

 I. - Introdução: Chefchaouen: A Cidade Azul do Marrocos e Sua Riquíssima História


Encravada entre as montanhas do Rif, no norte do Marrocos, Chefchaouen, ou Chaouen, como é carinhosamente chamada pelos locais, é uma das cidades mais encantadoras do mundo. Conhecida como a Cidade Azul, suas estreitas ruas pintadas em diferentes tons de azul atraem milhares de turistas todos os anos, fascinados pela beleza singular e pela história desse lugar. Chefchaouen não é apenas um destino estético: é uma cidade carregada de tradição, cultura e curiosidades históricas. 

Visão geral de Chefchaouen, foto HistoriacomGosto



II. - Resumo Histórico: Fundadores e Fundação


Chefchaouen foi fundada em 1471 por Moulay Ali Ben Moussa Ben Rached El Alami, um descendente do profeta Maomé, com o propósito original de ser uma fortaleza militar. A criação da cidade tinha um objetivo estratégico: proteger a região de invasões portuguesas que ocorriam durante aquele período. Sua localização nas montanhas do Rif conferia vantagens defensivas naturais, o que permitiu à cidade manter sua autonomia por muito tempo.

Originalmente, Chefchaouen começou como uma vila fortificada (uma espécie de casbá) e foi habitada por tribos locais de árabes e berberes, além de muçulmanos e judeus que fugiam da Reconquista Cristã na Península Ibérica, principalmente da região da Andaluzia, no sul da Espanha.

Forte de Chefchaouen, foto HsitoriacomGosto


Forte de ChefchaouenO forte que domina a praça principal de Chefchaouen, chamada Plaza Uta el-Hammam, é conhecido como a Kasbah de Chefchaouen. Este edifício histórico é um forte murado construído no final do século XV por Moulay Ali Ben Rached, o fundador da cidade. Ele foi erguido como parte de uma estratégia defensiva para proteger Chefchaouen contra invasões de forças estrangeiras, especialmente os portugueses, que, na época, estavam expandindo sua presença nas regiões costeiras do Marrocos.

III. - Povos que Habitaram a Região


Ao longo dos séculos, Chefchaouen foi o lar de várias etnias e comunidades, incluindo os:

Berberes: A população nativa da região, que habitava as montanhas do Rif há séculos. Eles continuam sendo uma das etnias predominantes e falam línguas berberes, além do árabe.

Árabes: Chegaram com a expansão islâmica nas décadas seguintes à fundação da cidade.

Andaluzes: Muçulmanos e judeus fugidos de Granada após 1492, que tiveram grande importância no crescimento cultural e urbano da cidade.

Judeus sefarditas: Tiveram um papel importante no comércio e nas práticas artesanais da cidade.

Mulheres berberes que habitam a região,
foto HistoriacomGosto


O convívio entre essas comunidades moldou uma cultura única em Chefchaouen, uma fusão de tradições árabes, berberes e andaluzas que podem ser vistas na gastronomia, nos artesanatos e, claro, na arquitetura.

IV. Quando Chefchaouen Adotou a Cor Azul?

A característica mais marcante de Chefchaouen é, sem dúvida, o fato de toda a cidade brilhar em tons variados de azul. No entanto, esse não foi um traço presente desde sua fundação.

Medina, foto HistoriacomGosto


Acredita-se que a tradição de pintar as ruas e as paredes de azul começou com imigrantes judeus, durante a década de 1930. Eles pintavam suas casas de azul para simbolizar o céu e, assim, aproximar-se espiritualmente de Deus. Na tradição judaica, o azul também é símbolo de proteção e remete ao manto divino.

Medina, foto HistoriacomGosto


Com o passar do tempo, o costume foi absorvido pela cidade como um todo, tornando-se uma marca registrada de Chefchaouen. Os locais ainda mantêm esse hábito, renovando a pintura regularmente para preservar o visual vibrante.

Medina, foto HistoriacomGosto



V. - Desenvolvimento do Turismo


Até bem pouco tempo atrás, Chefchaouen era um recanto tranquilo e relativamente desconhecido, frequentado mais por marroquinos do que por turistas internacionais. Foi a partir da década de 1980 que a cidade começou a ganhar notoriedade.

Com o avanço da globalização, Chefchaouen foi sendo descoberta lentamente, primeiro por mochileiros e viajantes alternativos e, mais tarde, por agências de turismo e revistas de viagem. Hoje, a cidade atrai visitantes do mundo inteiro que desejam experimentar sua atmosfera mágica e fotografar suas ruas azuis.

Medina Chefchaouen, foto de © Elenatur em dreamstime.com


Medina, foto HistoriacomGosto

Hoje Chefchaouen faz parte do circuito turístico do Marrocos de todos que entram / saem do país pelo porto de Tanger / Celta. A distância de Chefchaouen para Tanger é de 115 Km, levando em torno de 2h15min.


VI. -Fontes de Sustento


Historicamente, as comunidades da região viviam da agricultura, da produção de lã e da criação de gado. A cidade também ficou conhecida no passado pela produção de tinturas naturais e outros produtos que eram comercializados em mercados locais.

Nos tempos modernos, Chefchaouen desenvolveu seu sustento em três pilares principais:

Turismo: É a principal fonte de renda para grande parte da população. Restaurantes, hospedarias e vendas de artesanatos integram as principais atividades econômicas ligadas ao turismo.

Artesanato: A produção de tecidos, tapetes, cerâmicas e outros itens tradicionais é outro grande suporte econômico.

Agricultura e comércio local: A produção agrícola ainda é relevante, especialmente de itens como azeite de oliva, nozes e mel das montanhas do Rif.

Medina, foto HistoriacomGosto



Observação Importante

Chefchaouen está localizada em uma região relativamente fértil, especialmente quando se considera sua posição nas montanhas do Rif. Apesar de o norte do Marrocos incluir áreas mais áridas, como o litoral e algumas encostas, a região de Chefchaouen é marcada por vales e encostas que possuem vegetação abundante, principalmente devido à sua posição em altitudes mais elevadas e à proximidade com cursos d'água.

Terreno florido entre Fez e Chefchaouen, foto HistoriacomGosto



Chefchaouen e suas áreas ao redor são abastecidas por fontes naturais de água, o que contribui para a fertilidade da região. A principal fonte hídrica de Chefchaouen é o rio Ras El Maa, que é alimentado por nascentes localizadas nas montanhas do Rif.


VII - O que ver em Chefchaouen ?


O coração de Chefchaouen é sua medina, uma das regiões mais charmosas e fotogênicas do Marrocos. Caminhando por suas ruas estreitas e sinuosas, você será hipnotizado pelas diferentes tonalidades de azul que cobrem as paredes, portas e escadarias. As cores não são apenas encantadoras, mas também simbolizam o céu e o paraíso, refletindo a espiritualidade e a identidade cultural da cidade.

Medina de Chefchaouen, foto de © Dorinmarius em dreamstime.com


Medina, foto HistoriacomGosto


CuriosidadeExistem diversas cidades ao redor do mundo famosas por suas características arquitetônicas predominantemente azuis ou azuis  e  brancas, que atraem viajantes de todos os cantos. Essas cidades, muitas vezes, têm um importante valor histórico, cultural ou estético, além de estarem fortemente ligadas à identidade das regiões onde estão localizadas. Abaixo, algumas das cidades azuis e brancas mais famosas:

1. Santorini (Oia e Fira, Grécia) / 2. Sidi Bou Said (Tunísia) / 3. Júzcar (Espanha) – "A Vila dos Smurfs" / 4. Chefchaouen (Marrocos) / 5. Jodhpur (Índia) – "A Cidade Azul"

Pra terminar um dos gatos do Marrocos na cidade azul.

Gato em Chefchaouen, foto HistoriacomGosto

VIII - Referências


Notas e fotos de Viagem - HistoriacomGosto

Pesquisa - ChatGpt / Wikipedia

Fotos quando mencionado: Dreasmtime.com


IX - Outras Publicações 



Chefchaouen -https://www.historiacomgosto.com.br/2025/08/chefchaouen-cidade-azul-encantada-do.html





quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Córdoba, A Capital do Saber em Al-Andalus e o Renascimento Cristão

I. - Introdução: "As Belezas Eternas de Córdoba"


Córdoba é uma cidade onde a história ganha vida e o esplendor do passado se mistura à sua atmosfera contemporânea. Posicionada nas margens do rio Guadalquivir, esta cidade andaluza é ainda envolta por olivais que lhe trazem um encanto singular.

Visão de Córdoba a partir da Ponte Romana, foto de La Fabrika Pixel S.l em dreamstime.com


O charme de Córdoba está em seu casario histórico, com ruas estreitas de pedra e pátios floridos que parecem saídos de uma pintura. A Mesquita-Catedral, marcos romanos como a Ponte Romana, bem como o bairro judeu (Juderia), são testemunhos de diferentes eras de conquistas e reconquistas. Quem passeia por Córdoba pisa no mesmo solo que já recebeu grandes califas, sábios e conquistadores — todos contribuindo para o aprendizado, a arte e a ciência.


II. - A História da Cidade de Córdoba

a) A Fundação de Córdoba e as Primeiras Influências Romanas

A história de Córdoba começa por volta do século II a.C., quando se tornou uma colônia romana chamada Corduba, fundada pelo general Marco Cláudio Marcelo. Logo, Corduba se destacou como um centro administrativo da província Hispânia Ulterior.

  • Conquistas Romanas: Durante o domínio romano, a cidade prosperou com aquedutos, pontes e templos, incluindo a Ponte Romana, que ainda está preservada até hoje.
  • Religião: O politeísmo romano era dominante, mas o cristianismo começava a se disseminar no final do período imperial.
  • Personagens Importantes: O filósofo romano Sêneca, que nasceu em Corduba por volta de 4 a.C., é um exemplo do protagonismo intelectual associado à cidade.
                       
Seneca, desenho de Peter Paul Rubens, wikipedia

b) A Conquista pelos Visigodos

Após o colapso do Império Romano no século V, Córdoba foi conquistada pelos visigodos, tornando-se parte de seu reino cristão. Os visigodos transformaram antigos templos romanos em igrejas e consolidaram o cristianismo niceno.

- Arquitetura e Religião: Durante este período, igrejas dedicadas a santos como Santo Isidoro e São Vicente foram erguidas em Córdoba.

- Eventos Importantes: Embora o poder visigodo tenha sido de curta duração, sua ocupação representa a transição do politeísmo romano para um cristianismo mais consolidado.

Os Visigodos na Espanha, fonte Cathoicus.eu

c) A Invasão Árabe e o Apogeu Islâmico

Em 711 d.C., o general muçulmano Tariq ibn Ziyad invadiu a Península Ibérica, derrotando os visigodos na famosa Batalha de Guadalete. Córdoba foi conquistada e incorporada ao emergente Califado Omíada.

- A Capital do Emirado e Califado: Em 929 d.C., o emir Abderramão III declarou Córdoba a capital do Califado de Córdoba, marcando o início de seu período de ouro. Sob seu reinado, a cidade tornou-se o maior centro político, cultural e econômico de toda a Europa Ocidental.

- Avanços Científicos e Tecnológicos: Córdoba era sinônimo de inovação. Cientistas como Al-Zahrawi (Abulcasis), considerado o pai da cirurgia moderna, e Averróis (Ibn Rushd), filósofo e médico, produziram obras que impactaram a medicina europeia.
Al Zahrawi, wikipedia

- Edificações e Construções:      A Mesquita de Córdoba, iniciada por Abderramão I em 785 e expandida sob vários governantes, é um dos maiores legados deste período.

- Religiões Dominantes: Predominava o Islã, mas havia comunidades significativas de judeus e cristãos, conhecidas como dhimmis, que contribuíam para o ambiente multicultural da cidade.


d) A Reconquista Cristã de Córdoba

A cidade caiu nas mãos cristãs em 1236, quando Fernando III de Castela (El Santo) conquistou Córdoba durante o avanço da Reconquista. Rapidamente, a cidade foi transformada para se alinhar ao novo domínio cristão.

- Transformações na Mesquita de Córdoba: Após a conquista, a Mesquita foi convertida em uma Catedral, preservando parte de sua arquitetura, mas adaptando-se ao cristianismo.

- Religião: O cristianismo tornou-se a religião dominante, enquanto judeus e muçulmanos enfrentaram crescentes perseguições, especialmente com a Inquisição Espanhola sob os Reis Católicos.

-
Herança Arquitetônica: Palácios em estilo gótico e renascentista, como o Alcázar dos Reis Cristãos, foram adicionados ao panorama urbano.

Alcazar de los Reyes Cristiano, foto de Ajay Suresh em  Creative Commons


- Eventos Importantes: Córdoba passou a ser uma peça fundamental no Reino de Castela, nutrindo-se de sua posição estratégica e recursos agrícolas.

e) Queda e Renascimento

Após a queda de Granada, Córdoba, como muitas cidades andaluzas, experimentou um período de declínio econômico. Somente no final do século XIX e início do XX, a cidade começou a recuperar sua importância histórica e cultural, tornando-se hoje um ícone turístico mundial.


Medina de Azahara, foto de © Antonio Ribeiro em dreamstime.com


III.- Os Lugares Mais Importantes para Visitar em Córdoba

Aqui está uma relação essencial para explorar a história e o legado de Córdoba:


III.1. Mesquita-Catedral de Córdoba

Importância: Patrimônio Mundial da UNESCO e símbolo da fusão islâmica e cristã.

Características: Arcos de ferradura, mihrab decorado e a cúpula cristã construída após a Reconquista.

Catedral-Mesquita de Córdoba, foto @Olgacov em dreamstime.com


A construção da Mesquita de Córdoba começou durante o período islâmico na Península Ibérica, quando Córdoba era a capital do Al-Andalus.

A mesquita original foi iniciada por Abd al-Rahman I em 785 d.C., logo após a sua chegada à Península Ibérica e a fundação do Emirado de Córdoba. Ele comprou parte do local de uma antiga basílica visigótica dedicada a São Vicente de Saragoça e demoliu o que restava dela para construir a mesquita.

Ela foi construída como um símbolo do poder e da importância do Emirado de Córdoba, refletindo a sua ascensão como um dos centros culturais e políticos mais proeminentes do mundo islâmico da época. A intenção era criar uma mesquita grandiosa que rivalizasse com as grandes construções islâmicas de Damasco, Bagdá e Cairo.

A mesquita passou por várias fases de expansão ao longo de mais de dois séculos, começando com Abd al-Rahman I (785-788 dC) e terminando com Al-Mansur (987-990).


Fachadas


As portas e fachadas da Mesquita-Catedral de Córdoba não são do mesmo estilo. Pelo contrário, elas apresentam grandes variações e são um testemunho visível das diferentes épocas de construção e das culturas que as moldaram.


Fachada Oriental, Catedral-Mesquita de Córdoba, foto HistoriacomGosto

A fachada oriental É uma das fachadas mais longas do complexo, estendendo-se por grande parte do lado leste do edifício. 

Sua principal característica é a mistura de estilos e períodos que se manifestam nas suas portas e na própria alvenaria, evidenciando as várias fases de expansão da mesquita islâmica e as intervenções cristãs posteriores.

O processo de construção e expansão, portanto, durou mais de 200 anos.

Estilo Arquitetônico

O estilo da Mesquita de Córdoba é um exemplo sublime da arquitetura islâmica ocidental (Omíada), com influências visigóticas e romanas que já existiam na Península Ibérica.

Catedral-Mesquita Córdoba, foto HistoriacomGosto

Características Principais:

Bosque de Colunas: A característica mais distintiva são as centenas de colunas com arcos de ferradura (em forma de U) e arcos sobrepostos (bi-cromáticos, alternando tijolo vermelho e pedra branca), criando um efeito visual de um "bosque" ou "palmeiral". Este sistema de arcos duplos permitiu a elevação do teto, conferindo grandiosidade.

Bosque de colunas, Catedral de Córdoba, foto HistoriacomGosto

Mihrab: O mihrab é uma obra-prima de arte islâmica, ricamente decorado com mosaicos bizantinos e inscrições cúficas.

Em arquitetura islâmica, o Mihrab é um nicho semicircular ou reentrância na parede de uma mesquita que indica a Qibla, ou seja, a direção de Meca (na Arábia Saudita). Os muçulmanos devem se voltar para Meca durante suas orações diárias.


Mihrab, Catedral de Córdoba, foto HistoriacomGosto

Pátio dos Laranjais (Patio de los Naranjos): Um pátio com laranjeiras e palmeiras, que servia como antecâmara para as abluções rituais antes da oração.

Comparação com outras similares: Embora única em sua escala e complexidade, o uso de arcos de ferradura e a organização em "bosque de colunas" podem ser vistos em outras arquiteturas omíadas, mas a Mesquita de Córdoba eleva essas características a um patamares de excelência e originalidade sem paralelos. Seu sistema de arcos duplos é particularmente inovador.

Uso como Mesquita e a Reconquista Cristã

A Mesquita de Córdoba foi usada como principal local de oração islâmica por quase 5 séculos (de 788 d.C. a 1236 d.C.).

Em 1236, Córdoba foi reconquistada pelos exércitos cristãos sob o comando do rei Fernando III de Castela. Uma das primeiras ações após a conquista foi a consagração da Mesquita como uma igreja católica, dedicada à Virgem Maria.

Catedral-Mesquita de Córdoba, foto HistoriacomGosto

A conversão não resultou na demolição imediata da estrutura islâmica, mas sim em uma série de modificações e adições ao longo dos séculos para adaptá-la ao culto cristão.

Imagem de São João Ávila, foto HistoriacomGosto

Inicialmente, no século XIII, foram feitas pequenas alterações, como a construção de capelas dentro das naves existentes da mesquita e a remoção de elementos islâmicos. O mihrab foi preservado, mas a orientação da oração (para Meca) não se alinhava com a orientação da oração cristã (para o leste).

Catedral e Capela Maior

A mudança mais drástica ocorreu a partir de 1523, quando o bispo Alonso Manrique e o imperador Carlos V autorizaram a construção de uma catedral renascentista bem no centro da antiga mesquita. Essa catedral inclui:

Uma grande nave principal, transepto e capelas com estilos gótico, renascentista e barroco.

Um coro e um altar-mor que se erguem acima do "bosque" de colunas da mesquita, criando um contraste arquitetônico impressionante.

Catedral de Córdoba, Coro, foto de Fernando em Creative Commons



Capela Maior, foto HistoriacomGosto

Ao longo dos séculos, foram adicionadas capelas barrocas, tesouros, e o antigo minarete islâmico foi revestido para se tornar a torre do sino da catedral.
Capela do Sacrário

A Capela do Sagrário (Capilla del Sagrario) na Mesquita-Catedral de Córdoba é uma das mais belas e significativas adições cristãs ao complexo, representando um dos pontos focais da devoção eucarística dentro do templo.

É um exemplo suntuoso do estilo Barroco, com elementos que remetem ao Classicismo e ao Maneirismo. Sua construção representou um grande esforço artístico e financeiro, visando criar um espaço digno para o Santíssimo Sacramento.

É o lugar onde a Sagrada Eucaristia é reservada e adorada na Mesquita-Catedral. Devido à sua função, é um dos espaços mais sagrados e ricamente decorados do complexo, refletindo a importância central da Eucaristia na fé católica.

Capela do Sacrário, Catedral-Mesquita de Córdoba, foto HistoriacomGosto

A fusão dessas duas grandes arquiteturas, a islâmica e a cristã, é o que torna a Mezquita-Catedral de Córdoba tão única, servindo como um testemunho físico da complexa história da Espanha. Hoje, é um Patrimônio Mundial da UNESCO e um dos destinos turísticos mais visitados do país.

III.2. Alcázar dos Reis Cristãos


Importância: Residência dos Reis Católicos durante a Reconquista.

Características: Jardins exuberantes, torres e mosaicos romanos.

O Alcázar de los Reyes Cristianos foi uma antiga residência real da cidade, localizada em uma das margens do rio Guadalquivir. Os primeiros vestígios arqueológicos correspondem a um castellom da antiguidade tardia, que mais tarde foi substituído pelo Alcázar de los Umayyas e, finalmente, por uma cidadela almóada. Após a conquista cristã, os castelhanos reutilizaram parte desta cidadela almóada como entrada principal, o pátio do transepto e os banhos, embora pareça que as novas reformas foram concluídas em 1328 durante o reinado de Afonso XI. Os Reis Católicos foram os últimos monarcas a residir nele, especialmente devido à Guerra de Granada, de fato, o emir Boabdil foi preso e posteriormente libertado após aceitar sua vassalagem castelhana.  

                                                 
Vista do Alcazar, foto HistoriacomGosto



Pátio do Alcazar de Cordoba, foto de Pixels4Free em Wikimedia Commons

III.3. Ponte Romana


Importância: Marco da fundação romana da cidade.

Características: Treze arcos que cruzam o rio Guadalquivir.

Descrição: Acredita-se que a Ponte Romana de Córdoba tenha sido construída no século I a.C., durante o período da dominação romana da Península Ibérica, pouco depois da fundação da colônia de Corduba (Córdoba).

Foi construída a mando do Império Romano, como parte da infraestrutura necessária para o desenvolvimento das suas províncias e para a eficiente circulação de tropas, bens e pessoas. Córdoba era uma cidade estratégica na província da Bética.

Ponte de Córdoba, foto HistoriacomGosto


A principal finalidade da ponte era permitir a travessia segura e contínua do rio Guadalquivir. Ela fazia parte da Via Augusta, uma das mais importantes estradas romanas na Hispânia, que ligava Roma a Gades (Cádis). Isso a tornava crucial para o comércio, a administração e a defesa do Império na região.

Ponte de Córdoba, foto de © Jozef Sedmak em dreamstime.com


Mais recentemente A ponte passou por uma grande restauração no início do século XXI (concluída em 2008), que teve como objetivo preservar a sua estrutura e devolver-lhe parte da sua aparência original, removendo elementos mais recentes e restaurando a alvenaria. Hoje, é uma ponte exclusivamente pedonal, o que a torna um local muito agradável para passeios e para apreciar as vistas da cidade, da Mesquita-Catedral e do rio.

III.4. Bairro da Judería


Importância: Antigo bairro judeu.

Características: Ruas estreitas, sinagogas históricas e casas típicas.


Rua da Juderia, foto de    em dreamstime.com


Descrição: A Judería de Córdoba é um dos bairros judeus mais bem preservados da Espanha. Suas ruas foram projetadas para criar sombra e combater o calor do verão, uma característica que você pode sentir ao caminhar por elas. Era nesse bairro que a comunidade judaica vivia, trabalhava e orava, especialmente durante o califado de Córdoba, um período de grande prosperidade e intercâmbio cultural entre judeus, muçulmanos e cristãos.

O bairro é repleto de história em cada esquina. As casas, muitas delas com seus pátios internos cheios de flores, mantêm a arquitetura tradicional andaluza. Alguns locais de destaque são:

Sinagoga de Córdoba: É a joia da Judería. Construída em 1315, é a única sinagoga do período medieval que sobreviveu na Andaluzia. Embora pequena, sua arquitetura e a decoração de gesso esculpido em estilo mudéjar são impressionantes.

Calleja de las Flores: Uma das ruas mais famosas de Córdoba, a "ruelinha das flores" é um pequeno beco que leva a uma vista de tirar o fôlego da torre da Mesquita-Catedral. As paredes estão sempre cheias de gerânios, cravos e outras flores, tornando-a um lugar perfeito para fotos.


Calleja de las flores, foto de  em dreamstime.com

Casa de Sefarad: Uma casa-museu dedicada a preservar a história e a cultura do povo judeu sefardita, a comunidade judaica da Península Ibérica. O museu conta a história de Maimônides e outros pensadores, e exibe objetos, documentos e artefatos que narram a vida e a expulsão dos judeus.


Casa de Sefarad, foto Elliot Brown em wikimedia commons

Monumento a Maimônides: Localizado na praça de Tiberíades, este monumento homenageia o grande filósofo e médico judeu que nasceu em Córdoba. É um ponto de referência importante e um lembrete da grande influência intelectual que a comunidade judaica teve na cidade.

Monumento a Mamonides,
foto de  em dreamstime.com


III.5. Sinagoga de Córdoba

Importância: Uma das únicas sinagogas antigas preservadas na Espanha.

Características: Elementos mudéjares e textos hebraicos nos muros.

DescriçãoFoi construída em 1315 (equivalente ao ano hebraico 5075). Isso a torna uma das sinagogas mais antigas e mais bem conservadas da Península Ibérica.

Este é um estilo único que se desenvolveu na Espanha após a Reconquista Cristã, caracterizado pela fusão de elementos e técnicas construtivas islâmicas (como uso de tijolo, arcos de ferradura, intrincada decoração de estuque e alfarjes - tetos de madeira trabalhada) com estilos arquitetônicos cristãos (gótico, românico).


Sinagoga medieval, foto de © Amigo3070 em dreamstime.com


A sinagoga foi utilizada como local de culto para a comunidade judaica de Córdoba por um período relativamente curto, mas significativo, de cerca de 80 anos. Seu uso cessou com a expulsão dos judeus da Espanha em 1492, por decreto dos Reis Católicos.

III.6. Torre de la Calahorra

  • Importância: Fortaleza mourisca estrategicamente localizada.
  • Características: É hoje um museu dedicado ao diálogo entre culturas.

A Torre de Calahorra é uma fortificação histórica localizada em Córdoba, na extremidade sul da Ponte Romana, na margem esquerda do rio Guadalquivir. A torre original foi construída pelos muçulmanos, mais especificamente pela dinastia Almoáda, no século XII (por volta de 1171).

Torre de Calahorra, foto de © Lukas Blazek   em dreamstime.com


Período Trastâmara (século XIV): A mudança mais significativa na sua estrutura ocorreu no século XIV. Em 1369, o Rei Henrique II de Castela (Henrique de Trastâmara) ordenou uma grande reforma e ampliação. A torre foi transformada em um complexo mais fortificado, adicionando uma terceira torre cilíndrica central, que unia as duas torres originais por meio de passagens e uma muralha reforçada. Esta configuração atual, com três corpos, é resultado dessa reforma. A intenção era fortalecer a defesa da cidade durante a guerra civil contra seu irmão, Pedro I.

Atualmente, a Torre de Calahorra abriga o Museu Vivo de Al-Andalus. Este museu oferece uma experiência imersiva sobre a convivência das três culturas (cristã, judaica e muçulmana) que floresceram em Córdoba durante o período medieval. O interior da torre foi adaptado para a exposição, utilizando recursos audiovisuais e maquetes para recriar a atmosfera da Córdoba medieval e a riqueza cultural do Al-Andalus.

III.7. Palácio de Viana

  • Importância: Exemplo clássico de residência nobre.
  • Características: Doze pátios decorados e peças de época.

Descrição: O Palácio de Viana, mais do que um palácio, é uma casa-museu que oferece uma visão fascinante da vida aristocrática e da tradição cordovesa dos pátios.

O Palácio de Viana foi a residência da família dos Marqueses de Viana (título nobiliário espanhol) por várias gerações. Sua história remonta ao final do século XV, e a família Viana o habitou e enriqueceu por séculos. Em 1980, o último Marquês de Viana, Fausto Saavedra y Collado, vendeu o palácio à Fundação CajaSur (hoje Fundación Cajasur Obra Social), que o transformou em museu e o abriu ao público.


Entrada do Palácio de Viana

A entrada principal do palácio, na Plaza de Don Gome, é bastante imponente, com um portão que se abre para o Pátio dos Recebeiros (Patio de Recibo). Este pátio é o primeiro a ser visto pelos visitantes e já introduz a atmosfera de tranquilidade e a beleza vegetal que caracterizam o palácio. É um pátio típico de entrada, mais funcional e representativo.


Palácio de Viana, foto HistoriacomGosto

A história do palácio é mais uma de expansão e modificação do que de uma única construção. A parte mais antiga do palácio, incluindo o primeiro pátio (Pátio dos Recebeiros), data do século XV (por volta de 1492) e foi construída pela família de Don Gómez de Figueroa y Córdoba. Ao longo dos séculos, diferentes marqueses e proprietários foram adquirindo casas vizinhas e anexando-as ao complexo, criando a estrutura atual através de sucessivas ampliações e reformas, que se estenderam até o século XVII e posteriores adaptações.

Sala do Imperador

Existem várias salas importantes no palácio, mas uma das mais notáveis é o Salão do Imperador (Salón del Emperador), que recebe esse nome porque foi usado para alojar o Imperador Carlos V durante uma visita a Córdoba. 

Palácio de Viana, foto HistoriacomGosto

Pátios floridos

Este é, sem dúvida, o grande diferencial e a alma do Palácio de Viana. Ele possui doze pátios e um jardim, cada um com uma personalidade e estilo únicos, mas todos abundantemente decorados com plantas, flores, fontes e azulejos. Os pátios eram essenciais na arquitetura cordovesa para ventilação, iluminação e como espaços de convivência familiar, e em Viana atingem seu ápice. 

Alguns dos pátios mais famosos incluem: Pátio das Laranjeiras Pátio da Imperatriz Pátio das Madamas Pátio do Gato Pátio da Colunata e o  Jardim 

Palácio de Viana, foto HistoriacomGosto


Palácio de Viana, foto HistoriacomGosto


Palácio de Viana, foto HistoriacomGosto


III.8. Muros e Pátios Floridos (Patios de Córdoba)

A tradição dos pátios floridos de Córdoba, conhecida como Patios de Córdoba, não está diretamente ligada aos judeus. Embora a cidade tenha uma rica história que inclui a presença de comunidades judaicas, árabes e cristãs, a origem dessa tradição é mais complexa e remonta a costumes romanos e, principalmente, árabes.

Patio florido, foto HistoriacomGosto


Historicamente, os romanos já utilizavam pátios para iluminar e ventilar suas casas. No entanto, foram os árabes que aprimoraram essa prática durante a época de Al-Andalus. Para se protegerem do clima quente e seco da região, eles construíam casas com um pátio central e usavam plantas, flores e água para refrescar o ambiente. Era uma forma de criar um oásis particular dentro da casa.

Patio Florido, foto HistoriacomGosto

Com a Reconquista cristã e a manutenção da arquitetura existente, essa tradição foi incorporada e se espalhou, tornando-se uma característica fundamental da identidade de Córdoba. Hoje, a tradição é celebrada no Festival dos Pátios de Córdoba, que acontece em maio e atrai visitantes do mundo todo. O festival foi, inclusive, declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2012.


III.9. Plaza de la Corredera

  • Importância: Única praça de estilo castelhano na Andaluzia.
  • Características: Mercado histórico.

DescriçãoÉ uma grande praça retangular perfeita, completamente cercada por um edifício de três andares com galerias porticadas no nível térreo, sustentadas por arcos e colunas. Sua construção utiliza tijolos, o que confere um tom quente e coeso. As janelas dos andares superiores são uniformes, dando uma sensação de ordem e simetria.

A praça foi construída no final do século XVII, especificamente entre 1683 e 1687. Foi projetada por Francisco de Paula e Rojas (também conhecido como Francisco de Rojas), um arquiteto e corregedor de Córdoba. Sua construção visava criar um espaço público central para celebrações e comércio, seguindo o modelo das grandes praças barrocas espanholas, que eram projetadas para múltiplos usos.


Plaza de la Corredera, Cordoba, foto HistoriacomGosto

As moradias nos andares superiores do edifício que circunda a praça eram habitadas por famílias de diversas classes sociais. Originalmente, a ideia era que as varandas servissem como camarotes privados para assistir aos eventos que aconteciam na praça. Assim, era comum que fossem habitadas por comerciantes que operavam no térreo, famílias da pequena e média nobreza, ou cidadãos que buscavam a conveniência e o prestígio de morar em um local tão central e ativo. Com o tempo, a composição social dos moradores pode ter variado, mas o caráter residencial sempre se manteve.

Utilização ao longo do tempo

A praça era utilizada por toda a população da cidade e até mesmo por visitantes, servindo como o palco principal para grandes eventos públicos e atividades comerciais. Podemos listar os seguintes usos:

a) O nome "Corredera" (que pode se referir ao ato de "correr touros") já indica um de seus usos principais e mais famosos. Era o local onde se realizavam as corridas de touros. b) Infelizmente, também foi palco de momentos mais sombrios da história, incluindo execuções públicas (muitas delas realizadas pela Inquisição) e autos de fé. c) Servia como um grande mercado a céu aberto para a venda de produtos agrícolas, artesanato e outros bens. d) Era o cenário para festividades, celebrações cívicas e religiosas, desfiles e procissões.

III.10. Museu Arqueológico de Córdoba

  • Importância: Abriga achados romanos, visigodos e islâmicos.
  • Características: Exibição de moedas, cerâmicas e esculturas.

DescriçãoO museu está instalado no impressionante Palacio de los Páez de Castillejo, um magnífico exemplo de arquitetura renascentista cordovesa, construído no século XVI. Este palácio por si só já é uma obra de arte a ser admirada, com seu pátio central, galerias e rica ornamentação.

Porta de entrada Museu, foto HistoriacomGosto

Pátio do Museu, foto HistoriacomGosto


III.11. Cristo de los Faroles

  • Importância: Uma das estátuas religiosas mais veneradas da cidade.
  • Características: Representação icônica do século XVIII.

Descrição: O Cristo de los Faroles (Cristo dos Lampios/Lampiões) é uma das imagens mais icônicas e emblemáticas de Córdoba, Espanha. Não é apenas uma escultura, mas um conjunto artístico e devocional que se tornou um símbolo da cidade, especialmente associado à Semana Santa e ao ambiente místico de Córdoba.

A escultura está localizada na Plaza de los Capuchinos (Praça dos Capuchinhos), em Córdoba. Esta praça é conhecida por sua simplicidade e austeridade, cercada pelos muros do Convento do Santo Anjo dos Capuchinhos, o que contribui para a atmosfera solene do local.

O que torna essa imagem única e lhe dá o nome são os oito lampiões de ferro forjado que a cercam, dispostos de forma octogonal ao redor da cruz, criando uma iluminação dramática e quase teatral. Esses lampiões, quando acesos, projetam sombras e realçam a figura de Cristo, conferindo-lhe uma aura de misticismo e introspecção, especialmente ao entardecer ou à noite.

Cristo de los faroles, foto de © Adreslebedev em dreamstime.com

A escultura foi criada pelo escultor cordovês Juan de Realejo (Juan Nepomuceno de la Cerda), também conhecido como "El Cojo" (o Coxo). Foi realizada em 1794. O altar de pedra e os lampiões foram adicionados posteriormente, consolidando o conjunto como o conhecemos hoje.

Lenda do Cristo de los faroles (fonte: Civitatis - tudo sobre Córdoba)

Segundo a lenda popular, cada noite às doze em ponto se escutavam passos perto da Plaza de los Capuchinos e um homem com capuz se aproximava sigilosamente do Cristo de los Faroles. Ali, ele sussurrava umas palavras incompreensíveis e desaparecia misteriosamente...

Ninguém conseguiu ver seu rosto nem identificá-lo até que, uma noite, o homem misterioso revelou seu segredo à comunidade que cuidava da escultura de Cristo, antes de desaparecer para sempre. Ele era um soldado do Rei que, anos antes, havia sido assaltado por bandidos e, quando estava a ponto de morrer, despertou desorientado em frente ao Cristo de los Faroles. Desde então, a cada noite ia à escultura na mesma hora que o salvou para agradecê-lo.

III.12. Igreja de San Lorenzo


Importância:  A Igreja de San Lorenzo é uma das mais importantes e emblemáticas igrejas de Córdoba, fazendo parte do conjunto conhecido como as "Igrejas Fernandinas". Essas igrejas foram construídas ou consagradas após a reconquista cristã da cidade por Fernando III, o Santo, em 1236, e desempenharam um papel fundamental na organização do novo urbanismo cristão.

Após a reconquista, as igrejas Fernandinas não eram apenas locais de culto, mas também centros administrativos e sociais de suas respectivas colações (bairros), ajudando a organizar a população e a vida cotidiana da nova cidade cristã.


Características:  Representa uma fase de transição estilística, combinando elementos do Gótico com a forte influência Mudéjar, que é a arte cristã com inspiração islâmica. Isso a torna um exemplo valioso da arte hispânico-muçulmana pós-reconquista.


Fachada da Igreja de San Lorenzo, foto HistoriacomGosto


Interior da Igreja de San Lorenzo, foto HistoriacomGosto

III.13. Mercado Victoria

Importância:  O Mercado Victoria está situado nos antigos Jardines de la Victoria (Jardins da Vitória), na glorieta de Las Tres Culturas, uma área bastante central e de fácil acesso em Córdoba.

Foi o primeiro mercado gastronômico do seu tipo na Andaluzia, inaugurado em 2013. O conceito é semelhante ao de outros mercados gourmet que surgiram em grandes cidades, onde o foco não é a venda de produtos crus, mas sim a oferta de alimentos preparados para consumo no local.

Características:  O mercado está localizado em uma antiga estrutura de ferro forjado e vidro do século XIX, que originalmente abrigava a antiga Caseta del Círculo de la Amistad (um pavilhão de feiras). Essa estrutura foi restaurada e adaptada, conferindo um charme histórico ao espaço moderno.

O Mercado Victoria abriga dezenas de quiosques, cada um especializado em um tipo de cozinha ou produto. Essa é a sua grande "tradição": oferecer uma variedade imensa de tapas e pratos em um único espaço.


Entrada do Mercado Central, foto HistoriacomGosto


Quiosque de tapas, mercado central, foto HistoriacomGosto


III.14. Puerta de Almodóvar

  • Importância: Restante da antiga muralha moura.
  • Características: Entrada para o bairro judeu.

DescriçãoA Puerta de Almodóvar está localizada no lado oeste do centro histórico de Córdoba, servindo como uma das entradas principais para o Bairro da Judería (Bairro Judeu). A estrutura original da porta e da muralha remonta ao período romano, sendo uma das portas da antiga cidade romana de Córdoba. Durante a época do Al-Andalus, a muralha e a porta foram reforçadas e se tornaram parte do sistema defensivo da medina islâmica. O nome "Almodóvar" (ou "al-Mudhāwar") tem origem árabe e se refere a uma torre circular ou lugar fortificado.


Puerta Almodovar, foto © Neirfy em dreamstime.com

Ao lado de fora da muralha, há uma estátua do filósofo romano Sêneca, um dos mais ilustres cidadãos nascidos em Córdoba.


III.15. Ceramicas e Artesanato de Córdoba 


O artesanato e a cerâmica de Córdoba são expressões vivas de sua alma multicultural, onde a maestria no trabalho em couro (Cordobán e Guadamecí), com seus relevos e dourações, se destaca como herança moura de luxo e técnica refinada. Paralelamente, a cerâmica, com seus vibrantes azuis, verdes e amarelos em padrões geométricos e florais, não apenas embeleza os icônicos pátios e ruas, mas também narra a história da cidade através de cada vaso e azulejo. Juntos, eles formam um patrimônio artístico que é ao mesmo tempo funcional, decorativo e profundamente enraizado na identidade cordovesa.

Importância:  O artesanato cordovês é notável pela sua importância histórica e cultural, representando a fusão das influências romana, visigótica, islâmica e cristã que moldaram a cidade.

Características:  Peças de couro de alta qualidade, gravadas, estampadas, pintadas ou folheadas a ouro e prata. Criação de peças de joalheria (brincos, colares, broches) a partir de finíssimos fios de prata que são enrolados e soldados para formar padrões intrincados e rendilhados. Na cerâmica o uso de esmaltes vítreos confere às peças um brilho característico e durabilidade, protegendo as cores vibrantes.

loja de cerâmica, Córdoba, foto HistoriacomGosto


loja de cerâmica, Córdoba, foto HistoriacomGosto


IV. - Referências


Notas e fotos de Viagem - Historiacomgosto

Chat GPt - pesquisa sobre assuntos e textos de Córdoba

Guia Visual de Córdoba - Edilux

Wikipedia - pesquisa e textos sobre assuntos diversos de Córdoba

Gemini - Pesquisa e texto sobre juderia

Dreamstime - Fotos quando indicado


V.-  Outras Publicações Relacionadas


Córdoba - https://www.historiacomgosto.com.br/2025/08/cordoba-capital-do-saber-em-al-andalus.html